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FILOSOFIA
“Platão chama ‘filosofia’, amor da sabedoria, à própria indagação, à própria actividade educativa.” (Giorgio Colli) Para Platão, a filosofia é uma consequência de uma perda de algo que já se possuiu – a filosofia parecia ligada a um incerto passado, a um conhecimento que entretanto se perdera; por isso Sócrates sabe que não sabe, e por isso mesmo filosofa. O primeiro passo da filosofia é reconhecer a perda, ou a falta. Quer dizer, ainda que não acompanhemos Platão na ideia de uma sabedoria ancestral perdida, a filosofia é sempre uma busca por algo que não se possui – busca, procura, movimento, desejo. Todo o desejo, se bem que se manifesta no presente, aponta indelevelmente para um futuro, um ainda não. Filosofa-se porque se sente falta, filosofa-se porque se deseja. Deseja-se a sabedoria porque se não a tem – “‘o amor da sabedoria’ é inferior à ‘sabedoria.’” (Colli, mais uma vez). A filosofia é, assim, um reflexo de decadência, de imperfeição, de incompletude do ser humano. Desde as suas origens incertas nas culturas orientais, egípcias ou indianas, da Grécia Antiga aos dias de hoje, a filosofia tenta e ensaia sem nunca colmatar a falha. “Pode-se imaginar a história da filosofia europeia como uma estafeta em que um facho aceso em Platão – e em alguns dos seus predecessores, nomeadamente Parménides e Heraclito – foi transmitido através de gerações.” (Peter Sloterdijk) António Sérgio, na medida portuguesa, fará também parte desta corrida comum pela sabedoria, da qual a taça, a haver, seria o conhecimento da verdade das coisas, de tudo. Não interessa aqui, nestas curtas linhas, perceber o intuito último desta busca – o que se faria com o conhecimento desta verdade? O que mudaria? Em quem e em quê nos tornaríamos? A filosofia é então movimento e não paragem (na chegada), é, como escreve Sloterdijk, a tentativa de “este mundo turvo poder ser alvo de uma penetração lógica”, isto é, é a tentativa de dar algum sentido a isto tudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
FILANTROPIA
“A amizade é tão intimamente ligada à própria definição da filosofia, que podemos dizer que sem ela a filosofia não seria realmente possível. A intimidade entre amizade e filosofia é tão profunda que esta inclui o philos, o amigo, no seu próprio nome e, como muitas vezes acontece em toda proximidade excessiva, arrisca não conseguir distinguir-se. No mundo clássico, essa promiscuidade e, quase, consubstancialidade do amigo e do filósofo era óbvia, e é certamente por uma intenção de alguma maneira arcaizante que um filósofo contemporâneo – no momento de fazer a pergunta extrema “O que é a filosofia?” – pôde escrever que essa é uma questão para ser tratada entre amis”, escreveu Giorgio Agamben num texto de 2007. Tal como ‘filosofia’, a palavra ‘filantropia’ inclui a philia grega no nome. Este termo, que aparece na obra de Aristóteles dedicada à ética – Ética a Nicómaco, que muitos julgam ser uma compilação de notas dedicadas ao seu filho, cujo nome aparece no título –, significa ‘amigo de’ ou ‘amor por’. O outro termo grego, anthropos, designa, como é sabido, ‘ser humano’, ‘pessoa’, ‘humanidade’. Assim, ‘filantropia’, significa, genericamente, amor pela humanidade, pelos homens como espécie, amizade pelos outros. Percebe-se, igualmente, a lógica do seu antónimo – ‘misantropia’, a repulsa pelos outros, aversão, o isolamento. Viver em comunidade implicaria, portanto, a filantropia em alguma medida, porque viver em comunidade quer dizer conviver – viver lado a lado –, colaborar, cooperar. Aristóteles chega mesmo a escrever que “ninguém escolheria viver sem amigos mesmo se tiver todos os outros bens”. [ler a entrada Dádiva neste Glossário] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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