INQUÉRITO AO TRABALHO VOLUNTÁRIO
Carla Ventura Vice-Presidente da CASES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No passado dia 19 de julho, em conjunto com a apresentação da Conta Satélite da Economia Social foram divulgados os resultados do Inquérito ao Trabalho Voluntário (ITV), relativo a 2018, que nos deram a conhecer a caracterização dos voluntários e do voluntariado que é feito em Portugal.
De acordo com os resultados do Inquérito, cerca de 700 mil portugueses, com 15 ou mais anos, participaram em, pelo menos, uma atividade de voluntariado em 2018, daí resultando uma taxa de voluntariado de 7,8%. Com base nos resultados do ITV, e se quisermos traçar um perfil sintético, podemos afirmar que o voluntário português é maioritariamente do sexo feminino, com formação superior, idade compreendida entre 25 e 44 anos, reside na zona centro e participou essencialmente em ações de voluntariado no domínio da ação social. Claro está que esta leitura é demasiado redutora para caracterizar um universo que encerra, pela sua natureza, grande riqueza e diversificação. Podemos também destacar o facto de os resultados evidenciarem que a participação no trabalho voluntário está associada ao nível de escolaridade, bem como facto de cada vez mais jovens fazerem voluntariado, já que, pese embora encontremos mais pessoas com 25 a 44 anos a fazer voluntariado, é no escalão etário dos 15 aos 24 anos que encontramos a maior taxa de voluntariado, o que não se verificava nos resultados apurados em 2012. O mesmo exercício, em modelo piloto, tinha já sido realizado em 2012, mas importa relevar que dado ter sido utilizada uma metodologia distinta, os dados não são completamente comparáveis: o voluntariado informal deixou de contemplar as atividades de voluntariado feitas em prol de indivíduos com uma relação familiar, ou seja, o apoio prestado a familiares. Se tivermos em conta apenas o voluntariado formal, aquele que é desenvolvido através de uma organização, e uma vez que nesse quadro não houve alteração metodologia operacionalizada, sendo, por isso, possível efetuar uma comparação com os resultados do ITV relativos a 2012, o número de voluntários aumentou. De facto, a taxa de voluntariado formal aumentou de 5,9%, em 2012, para 6,4%, em 2018. São, em suma e independentemente da sua caraterização sociodemográfica, milhares as pessoas que diariamente se dedicam ao trabalho voluntário, estando sempre disponíveis, pela sua própria iniciativa ou das organizações com as quais se identificam, para defenderem causas comuns, provocando nas comunidades onde atuam transformações sociais significativas na promoção da cidadania. Enquanto promotor de práticas comunitárias, o voluntariado tem um papel decisivo no reforço da coesão social e na consolidação do regime democrático e da cidadania, aproximando os cidadãos em torno de causas comuns, solidárias e integradoras do indivíduo na vida coletiva, por isso, o voluntariado tem assumido um espaço próprio enquanto medida de ação política. Em 2017, a CASES viu as suas competências alargadas à área do Voluntariado, passando a ser a entidade responsável pela prossecução de políticas nesta área, cabendo-lhe desenvolver as ações necessárias à promoção desta prática de cidadania. Tendo em vista contribuir para que o trabalho voluntário não só prossiga, como ganhe, inclusive, um maior dinamismo e um maior reconhecimento, foram desenhadas e implementadas três medidas que foram entendidas como essenciais para concretização desse objetivo: uma plataforma – www.portugalvoluntario.pt – para facilitar o encontro entre quem quer desenvolver ações de voluntariado e as organizações que as promovem; um apoio financeiro direcionado para as organizações promotoras de ações de voluntariado poderem fazer face às despesas decorrentes dos seguros dos voluntários que enquadram; e uma linha de financiamento de ações de formação e sensibilização. Mas para o desenho de medidas, para uma definição ajustada de estratégias de intervenção, é essencial o conhecimento do universo de intervenção. E o conhecimento do universo do voluntariado em Portugal é hoje possível pelos resultados do ITV, em cujo processo de desenvolvimento o Instituto Nacional de Estatística envolveu, desde o primeiro momento, a CASES. Os resultados do ITV permitirão desenhar medidas de política mais ajustadas, desenhar respostas mais adequadas à nossa realidade, tendo sempre presente o princípio da autonomia do voluntariado e dos seus representantes. Políticas públicas que regulem, apoiem, mas que não restrinjam esta atividade que se constitui como um dos mecanismos mais promissores de solidariedade social e, porventura, até socialmente mais generoso do que as solidariedades comunitárias, na medida em que transvaza os quadros da relação familiar e de vizinhança, assumindo uma dimensão de cidadania mais profunda. Cabe, pois, à CASES a grata missão de contribuir para o reforço das condições e para ajustar ou disponibilizar mecanismos que dinamizem e qualifiquem esta atividade. Objetivo que veio ser potenciado pelos resultados do ITV. |