RUI NAMORADO
Nasceu em Coimbra em 1941.É licenciado em Direito e mestre em Ciências Jurídico- Empresariais pela FDUC. É doutorado em Direito Económico (Direito Cooperativo) pela FEUC, onde foi Professor até se jubilar. Entre outos, é autor dos seguintes livros: O essencial sobre cooperativas, Imprensa Nacional (2013); O Mistério do Cooperativismo, Almedina, (2013); Abril antes de Abril- a crise universitária de Coimbra de 1969, Lápis de Memórias, (2016); Suplício e Paixão do Socialismo, Lápis de Memórias (2018). |
1. Que factores históricos e sociais contribuíram para o surgimento e consolidação do movimento cooperativo?
Com a acentuação da sua tonalidade capitalista nos países mais desenvolvidos da Europa e da América, que se intensificou no século XIX, a ordem económica foi cada vez mais sendo absorvida por uma lógica de geração do lucro enquanto motor da reprodução alargada do capital. As cooperativas afirmaram-se como um dos aspectos da resistência do movimento operário a essa dinâmica, como uma das suas vertentes associativas mais relevantes, ao lado dos sindicatos e dos partidos políticos operários. Pode dizer-se que através delas o movimento operário assumia uma intervenção empresarial própria, cujo eixo era o de gerar valor de uso, sendo o valor de troca eventualmente gerado instrumental e secundário. As cooperativas procuravam utilizar o capital, mas sem se deixarem instrumentalizar por ele. O movimento cooperativo não se circunscreveu, no entanto, ao movimento operário. Afirmou-se também na actividade agrícola e no espaço rural, bem como numa fase posterior no pequeno comércio e no artesanato, sem esquecer a cooperação de crédito, ligada ou não à economia rural. Compreende-se assim que as cooperativas modernas inscrevam no seu código genético a sua raiz no movimento operário, ainda que não tenham existido apenas no seu seio. Na verdade, o fenómeno associativo com a tonalidade cooperativa que a modernidade consagrou começou a emergir com algum significado no início do Século XIX, em especial em Inglaterra, mas também de algum modo na França e na Alemanha. Nas primeiras quatro décadas desse século, particularmente em Inglaterra, foi forte a natalidade cooperativa, embora acompanhada insalubremente por uma forte mortalidade. Daí resultou uma intensa procura de regras de funcionamento que assegurassem que, na constância dessa natalidade, a mortalidade esmorecia. Foi nesse quadro que surgiu, como episódio marcante que se inscreveu história do cooperativismo, a fundação em 1844 na cidade inglesa de Rochdale, nos arredores de Manchester, de uma Cooperativa de Tecelões, predominantemente congregados pela sua qualidade de consumidores. As regras por que se regeu essa cooperativa ─ a Cooperativa dos Pioneiros de Rochdale ─ ganharam reconhecimento e notoriedade, transpondo celeremente a fronteira inglesa e afirmando-se, gradual mas seguramente, como espinha dorsal da identidade cooperativa, como matriz essencial do que viriam a ser os princípios cooperativos. continuar a ler
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