"O que aprendi, li e depois elaborei, acabou, no essencial, por ser concretizado pelos Governos que se sucederam e pelo movimento cooperativo ele próprio."
"O livro fala dos primórdios da cooperação, das primeiras cooperativas, do seu progressivo inter-relacionamento até que foi criada a Aliança Cooperativa Internacional."
"Assumi deliberadamente a decisão de coligir alguns dos principais relatórios, sem análises ou comentários de fundo, mas permitindo ao leitor não ter de recorrer à internet para montar o seu encadeamento."
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ANTÓNIO SÉRGIO - Breves Percurso e Herança
João Salazar Leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Todo o escritor cuida do seu ego o melhor que consegue. No meu caso, aproprio-me agora dessa palavra, mesmo sabendo que sou mais compilador e sistematizador do que outra coisa. Mas creio que esta obra permitiu servir vários objetivos.
Em primeiro lugar, aquando da edição original, demonstrar aos alunos da então licenciatura em gestão de cooperativas agrícolas no Politécnico de Santarém, em cadeira que levava o título do livro, que o professor tinha uma base de conhecimentos mínima, e que considerava que, à falta de bibliografia sobre cooperativismo, o livro preenchia essa lacuna. Estávamos entre o final da década de 80 e princípios da de 90, e acabava de falhar a tentativa de instalação em Portugal, com o apoio do PNUD, de um Sistema Nacional de Educação e Formação Cooperativa (Projeto Séneca). A iniciativa do Politécnico de Santarém fora o único compromisso assumido que foi concretizado e quando me dirigiram convite para lecionar a cadeira introdutória do curso, não pude deixar de o aceitar, já que fora perito nacional no Projeto referido. Quanto ao livro só chegaria adiantadas que iam as edições do Curso, e porque a tiragem foi reduzida, rapidamente esgotou. Em segundo lugar, dar continuidade a uma linhagem de poucos autores nacionais que escreveram sobre cooperativismo no pós 25 de abril. Que o mercado era reduzido, dizia-se, que não valia a pena esbanjar dinheiro com o que poucos iriam ler. A primeira edição do livro ainda foi escrito à máquina, pois não havia computadores, o que a par do esgotamento da edição, me causou uma revolta interna. O livro não aparecia citado nas bibliografias de outros que escreveram depois de mim mas, quando lia esses textos, verificava que os autores a ele teriam tido acesso e o ocultavam. Daí que sempre tenha pensado que, um dia, acabaria por dele fazer uma edição atualizada, esperando que essa fosse mais lida e comentada.
Em terceiro lugar, o ego está presente sob forma de mostrar o meu percurso enquanto funcionário que, por quatro décadas, acompanhei estas matérias. O ser funcionário muitas vezes impediu que, com regularidade, pudesse expor o meu pensamento, atento o juramento que fiz na minha posse. Mas o tempo acabou por me oferecer razões de contentamento, já que o que aprendi, li e depois elaborei, acabou, no essencial, por ser concretizado pelos Governos que se sucederam e pelo movimento cooperativo ele próprio. É justo que deixe dito, que o livro só pode ver esta segunda edição, aumentada e corrigida, graças ao Presidente da CASES, Dr. Eduardo Graça. A ele coube rebentar o dique que cerceou a minha escrita durante anos. Primeiro, soube aproveitar a declaração, pelas Nações Unidas, de 2012 como Ano Internacional das Cooperativas, para propor a vários autores a escrita de trabalhos sobre cooperativismo e economia social. Escrevi então 5 livros, um na Imprensa Nacional sobre Princípios Cooperativos, que também esgotou, mas no essencial trabalhando sobre a coleção do Boletim Cooperativista que o Prof. Ferreira da Costa, aquando da sua saída de Presidente do INSCOOP me ofertou, e que até então guardava no meu arquivo, adormecida. Não parei desde aí. Recuperar aquele que sempre considerei o meu principal escrito passou a ser uma ideia constante. E, confesso, sempre esperei vê-lo em papel, eu que nasci antes da TV em Portugal e dos computadores e com uma vasta Biblioteca de meu avô em casa.
Colocado ‘em sossego’ na Casa António Sérgio, foi-me facilitado reescrever, literalmente porque não existia nenhuma diskette gravada, o livro. Espero que, desta vez, ele atinja um maior número de leitores, não apenas, como na primeira edição, os alunos de Santarém e poucos dirigentes de cooperativas. Não gostaria de ver o mérito do livro ser medido pelas citações do que escrito ficou, mas sim pelos comentários, críticas, trabalhos complementares, que a partir dele forem feitos. O livro fala dos primórdios da cooperação, das primeiras cooperativas, do seu progressivo inter-relacionamento até que foi criada a Aliança Cooperativa Internacional, dos princípios e valores que esta tabelou e que são, ainda hoje o guia para as cooperativas verdadeiras, dos que teorizaram antes e depois o cooperativismo e, sobretudo, fala dos tempos modernos que acompanhei enquanto representante do INSCOOP e da CASES nos diferentes palcos internacionais em que o cooperativismo e a economia social é discutida. Neste domínio, aliás, assumi deliberadamente a decisão de coligir alguns dos principais relatórios, sem análises ou comentários de fundo, mas permitindo ao leitor não ter de recorrer à internet para montar o seu encadeamento. Eles estão reproduzidos, e quem os quiser desenvolver num trabalho de autor, então sim as referências permitir-lhe-ão fazê-lo. Termino com a economia social, à qual as cooperativas pertencem por Lei e direito, por história do conceito ele mesmo.
A aposta será ganha, untando mais o meu ego, se um qualquer leitor encontrar no que escrito fica nem que seja uma só informação que desconhecia. Arrisco concluir com votos de boa leitura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Revista ES n.04 ― fevereiro 2019
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