João Príncipe
Universidade de Évora
Instituto de História Contemporânea- CEHFCi University of Évora Institute of Contemporary History - CEHFCi |
SOBRE O COOPERATISMO DE CHARLES GIDE
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Como é sabido, a formação cooperativista de António Sérgio (1883-1969) deveu muito à leitura e ao exemplo de Charles Gide (1847-1932). É do pensamento económico deste que aqui se tratará. A reflexão deste grande mestre do pensamento cooperatista pode hoje ajudar a repensar as raízes espirituais e teóricas de uma sã concepção da economia social, via maior para (re)-introduzir uma moral altruísta no funcionamento do nosso, profundamente contraditório, sistema económico que se estende à escala global e que continua assente, ideologicamente (mas não de facto, dadas as tendências monopolistas), no struggle for life e numa concepção implícita de darwinismo social que supõe boa a competição, mesmo se muitos dos especialistas do evolucionismo biológico foram chamando a atenção, desde os tempos de Darwin, que a sobrevivência e sucesso de muitas espécies depende da cooperação entre os seus membros. Num período em que o espectro da Grande Guerra volta a assolar o Mundo, vale decerto a pena recordar como organização económica e paz entre povos são questões interligadas.
Durante a Primeira República, António Sérgio interessou-se por tópicos de economia política no quadro da sua interpretação da História de Portugal. Por volta de 1914, retomando o tópico das causas da decadência nacional, tema caro a Antero de Quental e a Oliveira Martins, identificou o que lhe pareceram ser as duas grandes causas – o Isolamento e o Parasitismo; este último era em larga medida de carácter económico, consistindo na exploração do trabalho alheio por modos vários : a conquista guerreira, o esclavagismo, a exploração da mais valia gerada pela força colectiva que no processo de divisão do trabalho emerge como fonte de riqueza que é maior que a soma dos trabalhos individuais co-participantes, o excesso de profissões ociosas, etc. Como Herculano e a geração de 1870, foi no quadro do pensamento económico de Adam Smith que Sérgio forjou a célebre dicotomia das Duas políticas nacionais (fixação versus transporte). O seu pensamento económico, profundamente anti-estatista, era então marcado por Smith, Proudhon, Antero e Martins e as suas propostas, no quadro das revistas Pela Grei e Seara Nova, são favoráveis ao mutualismo, não hostilizando o liberalismo económico e moral de Smith e de Herculano. O Cooperativismo estava no seu horizonte, mas não com a intensidade dos anos a vir, os anos sombrios do Estado Novo. Durante o seu exílio parisiense (1926-1933), António Sérgio desenvolveu o seu interesse, que nascera das suas leituras de Proudhon e de Antero, por uma forma associativa que herdava o espírito das mutualidades e cujo primeiro exemplo de sucesso fora o dos pioneiros de Rochdale cuja cooperativa (Rochdale Society of Equitable Pioneers, fundada em 1844), simultaneamente associação e empresa, soube encontrar soluções de viabilidade económica numa base de funcionamento solidário (cada membro um voto como princípio fundamental, o que contraria radicalmente o princípio capitalista que implicitamente faz equivaler a posse do capital a poder, nomeadamente político) e que, ao mesmo tempo, soube formular com elevação os seus ideais: “Logo que tal seja possível, a nossa sociedade deverá pôr-se a organizar a produção, a distribuição, a educação e o governo, ou, por outros termos, fundar uma colónia autónoma de interesse solidário, e ajudar outras sociedades a fundar colónias semelhantes”.[1] No seu regresso, Sérgio, percebendo o valor concreto do ideal cooperativista, e quais os seus maiores teóricos em França (no bom sentido da palavra que é do da compreensão profunda e global, científica), traduzirá e apresentará as ideias de Charles Gide, e empenhar-se-á a fundo na causa cooperativista, a ponto até de sacrificar a sua obra de escritor de ideias (além da sua pequena felicidade burguesa, que nunca lhe interessou). Mas esse empenho sacrificial era por ideias e ideias boas, como passamos a recordar. Charles Gide é um economista de formação cristã que a partir de 1885 passa a colaborar com os fundadores da Escola de Nîmes - Auguste Fabre e Edouard de Boyve - e que a partir de 1922 ensina no Collège de France, sendo titular da cátedra de Cooperação. Gide dá grande relevância às cooperativas de consumidores e teoriza a fundamentação do princípio da hegemonia do consumidor, sendo que a tradição clássica em economia atribuía a primazia ao produtor; para tal apoiou-se no pensamento dos economistas marginalistas - vale a pena recordar que Léon Walras (1834-1910), um dos mais distintos dentre eles, foi amigo de Gide. Ora, a novidade desta escola de teoria económica foi a de julgar que o valor de um bem não deriva apenas do seu custo de produção e do trabalho nele envolvido, dependendo sobretudo da sua utilidade, ou da sua desejabilidade pelo consumidor, da intensidade da necessidade sentida a qual está ligada à quantidade disponível desse bem (à sua escassez) e à ideia que disso faz o consumidor/aquisitor. Destarte, o valor adquire uma dimensão psicológica, subjectiva, a qual justifica o primado do consumidor - a cooperativa de consumo pode ser assim compreendida como um veículo natural para o consumidor exercer o seu poder - lutando por um preço justo, ou pela pura e simples distribuição dos bens no caso da sua comprovada abundância. Organizando-se, tornando-se consciente do seu estatuto e necessidades prioritárias, o consumidor pode deixar de ser vítima do intermediarismo e dos ajustes de interesses entre produtores e vendedores que eliminam a real concorrência e permitem o preço de venda especulativo, e duma produção que não atende às suas mais prementes e reais necessidades, por ausência de uma planificação naquelas baseada.[2] Mas, no pensamento de Gide, para que as cooperativas possam ir construindo um reino do consumidor - indo paulatinamente conquistando o comércio, a indústria manufactureira e a indústria agrícola - é necessário que as pequenas cooperativas se possam ir federando, avançando no sentido da constituição de uma República Cooperativa, na qual os meios de produção passem das mão dos produtores (capitalistas) para as mão dos consumidores-cidadãos, isso em nome da justiça social. Bem entendido, o primado do consumidor, uma economia assente nas necessidades deste, não pode esquecer que a produção de bens necessita de um trabalho que, apesar das máquinas, é em larga medida humano e cuja eficiência, tal como exemplificado pela inclinação taylorista e fordiana, pela produção em série em cadeias de produção, está associada a uma condição de alienação do trabalhador, muito nos antípodas do trabalho artesanal e criativo. A forçosa concorrência entre sector cooperativo e sector capitalista coloca, portanto, sérios problemas ao pensamento e à prática cooperativista. A opção por uma sociedade de tempo livre, regida por um ideal humanista, exige um trabalho menos penoso, e, portanto, a maximização da utilidade como simples interesse naturalizado do consumidor não pode ser o princípio director pois que este aliena o produtor, e o cidadão partilha das duas condições (de produtor e de consumidor). Daí a necessidade de uma atitude experimentalista, atenta ao concreto, à solução de situações problemáticas, e do primado da atitude moral, que para Gide é a da adesão a uma moral solidarista, na qual cada um se esforça pelos outros: “é o sacrifício de uma parte do nosso eu individual para adquirir uma cota-parte do nosso eu colectivo”.[3] É o próprio Gide que inscreve o ideal cooperatista numa tradição socialista distinta da marxista-leninista e que é aquela onde se inscrevem Antero e António Sérgio: “o cooperatismo assemelha-se muito ao socialismo francês do século passado (o século XIX): ele assemelha-se a este de tal modo que pode-se mesmo dizer que ele é hoje a sua mais fiel expressão”.[4] Convém, todavia, assinalar que se Gide apostou muito no movimento cooperativista - em especial nas cooperativas de consumo, ele manteve uma atitude aberta, experimentalista e evolucionista, em relação a todas as formas de organização social que favorecem uma economia não dominada pelo imperativo do lucro e que permitem melhorar pacificamente as condições de vida e a solidariedade entre as pessoas. Gide apostava no experimentalismo por reconhecer a imprevisibilidade da evolução social, a qual é dada a ‘corsi e ricorsi’, de modo que uma solução que falha num dado contexto, pode vir a revelar-se fecunda num outro contexto, argumento pluralista por excelência. As cooperativas de consumo podem ser uma solução para um dado contexto histórico-social, mas as soluções pragmáticas em favor de uma economia social devem partir sempre do quotidiano real das pessoas. Gide pensou as cooperativas como ‘Laboratórios de experimentação social’, onde as classes populares se podiam educar, em particular no que toca à gestão dos assuntos económicos, para vir um dia a tomar na sua mão os destinos da economia, abolindo as desigualdades de uma sociedade dominada pela economia do lucro. Mas não descartou a hipótese de o sector cooperativo manter boas relações com um sector forte de serviços públicos, nem uma evolução social que permitisse um papel positivo da iniciativa privada, dos sindicatos, e de outros tipos de cooperativas, de mutualidades e de associações - de algum modo, parecia-lhe razoável a possibilidade de uma terceira via onde a economia de mercado convivesse com os outros sectores sem que o capitalismo fosse hegemónico. Tal atitude encontra-se também em António Sérgio; eis disso um exemplo, numa entrevista em 1939, interrogado sobre o tema da Guerra, respondeu, num nítido alerta para os perigos do excesso da planificação num regime em que a correcção da desigualdade entre patrões e empregados deixara emergir uma elite de burocratas estatais: A atitude do intelectual perante a guerra, afigura-se-me dever ser, sobretudo, a de estudar as reformas sociais, que poderiam evitá-la, para o futuro. Aqui suponho que se deve ir de dentro para fora, e não de fora para dentro. Por outras palavras: as modificações deverão ser, não na simples orgânica da política externa dos vários estados, mas na estruturação interna, económico-social, de cada nação. Nesse ponto seria erro, conjecturo eu, quererem povos como o inglês ou o francês, imitar quaisquer coisas das já feitas, ou tentar a instauração de um regime que, introduzindo a planificação económica e terminando com a exploração e a especulação, não buscassem, ao mesmo tempo, o máximo possível de liberdade, o máximo respeito pela pessoa humana. Porquê? Porque a planificação desejável é a planificação para a liberdade, obtida pela vigilância dos governadores. Não se trata de escolher entre tudo e nada - entre uma planificação rígida, por uma banda, e por outra banda, uma economia de mercado perfeitamente casual e automática - mas de combinar a planificação socialista com o regime do preço do mercado, começando por aceitar a complexidade das coisas. De maneira que, para realizarmos obra séria, não nos deveríamos entregar à concepções simplistas, mas embrenhar-mo-nos na economia política e estudar os problemas concretos da economia do nosso tempo, determinando como é que o preço e os seus correlativos - a moeda o mercado - podem ser adaptados a uma economia planificada.[5] Do ponto de vista teórico, vale a pena lembrar que Gide é o autor de um dos grandes tratados de economia da sua época (os Principes d’économie politique foram traduzidos em 19 línguas), e que, se não foi um pensador original e inovador da estatura do seu amigo Léon Walras, ele soube insistir sempre em como os modelos da economia pura, assentes na hipótese de um Homo œconomicus, reproduziam com imperfeição a economia prática, para cuja compreensão se devia integrar, num projecto teórico maior que o da economia pura, a importância da história, das instituições e do estado, o papel da moral, etc.[6] Para terminar, nestes tempos em que se ameaça o futuro da humanidade com uma exploração desenfreada dos recursos naturais, e em que o complexo mercado-tecnociência reforçou a um ponto nunca antes visto a natureza sistémica das relações que nos envolvem a todos fazendo acreditar que o ‘technological fix’ é panaceia para todos os problemas e que estamos na boa via para uma sociedade da abundância, não sendo o crescimento económico ensombrado por nenhuma nuvenzinha malthusiana (‘malhas que o Império tece’ diria Fernando Pessoa), vale a pena recordar mais razões para a actualidade do pensamento alternativo de Charles Gide: ele interessou-se muito pela educação dos consumidores, apoiando, por exemplo, a formação de associações dedicadas ao comércio justo e chamou a atenção para os perigos de um consumo desenfreado que ameaçam o ambiente e as espécies naturais. REFERÊNCIAS FURLOUGH, ELLEN (1999) ‘French consumer cooperation, 1885-1930: from the “third pillar” of socialism to “a movement of all consumers”’, in ELLEN FURLOUGH e CARL STRIKWERDA (eds.) (1999) Consumers against capitalism?, Lanham: Rowman and Littlefield publishers. GIDE, CHARLES (2001) Les oeuvres complètes de Charles Gide - Volume IV Coopération et économie sociale 1866-1904 Présenté et annoté par Patrice Devillers, Paris: L’Harmattan. NAMORADO, RUI (2005) Cooperativismo: Um horizonte possível, conferência dada em Coimbra a 11-3-2005. Disponível em linha. PÉNIN, M. (2006) ‘Charles Gide est-il toujours d’actualité ?’, Revue internationale de l'économie sociale, Nº 301, 65–81. Disponível em linha. [1] Artigo primeiro dos estatutos da Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, citado de GIDE 2001, p. 13. A viabilidade ganha resultou de modificar os princípios de outras cooperativas mal-sucedidas - passou-se a vender, aos membros da cooperativa de consumo, a preço corrente em vez de ao preço de revenda (gerando assim superávites maiores que permitem a capitalização da empresa) e, com o propósito de aumentar a clientela, distribuíram-se os dividendos na proporção das compras efectuadas por cada membro, GIDE 2001, p. 15-16. Como introdução ao tema dos princípios e valores cooperativos, numa perspectiva actual, ver NAMORADO 2005. [2] Eis duas citações, ilustrativas, de Charles Gide: “O desejo, eis a única causa do valor, por isso propus substituir-se a palavra valor pela palavra desejabilidade (désirabilité)” in ‘Le matérialisme et l'économie politique’, Revue d'Économie Politique (REP), 1912; “Acumulai todo o trabalho que quiserdes, petrificai o ferro ou o barro e tudo o que ireis obter será uma coisa invendável, portanto inútil, até ao dia em que o desejo do consumidor venha a dar vida a essa matéria inerte nela insuflando aquela alma que se chama valor”, in Leçon inaugurale à la chaire de coopération au Collège de France: ‘La coopération et la place qu’elle réclame dans l'enseignement économique’, REP, 1922. citado de GIDE 2001, p. 17-18. [3] Charles Gide, La mise en pratique de la solidarité dans les coopératives, conférence donnée à l'Ecole des hautes études sociales le 21-01-1903 et reproduite dans les conférences de propagande, seconde édition 1906, Sirey, p. 326-356, citado de GIDE 2001, p. 21. Gide é conjuntamente com Durkheim, Fouillée, e Léon Bourgeois, um dos grandes pensadores da doutrina solidarista republicana na França. [4] Ver de Charles Gide: ‘Le programme coopératiste’, 1924, in Œuvres, vol. VII, p. 284, citado de PÉNIN 2006 p. 78. Sobre as divisões e recomposições do movimento cooperativista em França, motivadas por disputas ideológicas, ver FURLOUGH 1999. [5] António Sérgio, artigo no jornal O Diabo, 1939, nº 239, p. 7. [6] Ver PÉNIN 2006, p. 69 e seguintes. |
As is known, the cooperativist thought of António Sérgio (1883-1969) owes much to his reading and the example of Charles Gide (1847-1932). What follows concerns the latter’s economic thinking. In our times, the reflections of this great master of cooperative thought can help us rethink the spiritual and theoretical roots of a soundly conceived social economy, for the larger purpose of (re)introducing an altruistic morality into the functioning of our profoundly global contradictory economic system, which remains ideologically (if not in practice, due to monopolistic tendencies) based on struggle for life, and on an implicit conception of social Darwinism that assumes competition is good, although many specialists in biological evolution since Darwin’s time have noted that the survival and success of many species depend on cooperation between members. At a time when the spectre of the Great War once again looms over the world, it is certainly worth remembering how economic organisation and peace between populations are interconnected issues.
During the First Portuguese Republic, António Sérgio became interested in political economy topics within the scope of his interpretation of the History of Portugal. Around 1914, back on the topic of the causes of national decay, a theme dear to Antero de Quental and Oliveira Martins, he identified what, in his view, were the two major causes – Isolation and Parasitism; the latter was largely of an economic nature, consisting in the exploitation of the work of others in various forms: conquest, slavery, exploitation of the added value generated by the collective force emergent from division of labour as a source of wealth greater than the sum of the individual work of co-participants, the excess of idle professions, etc. Like Herculano and the generation of 1870, it was within the framework of Adam Smith's economic thought that Sérgio forged the celebrated dichotomy of the Two national policies (fixation versus transport). At this point, his deeply anti-statist economic thinking was marked by Smith, Proudhon, Antero and Martins, and his proposals made within the context of the magazines Pela Grei and Seara Nova are favourable to mutualism, without antagonising the economic and moral liberalism of Smith and Herculano. Cooperativism was on his horizon, but not with the intensity of the years to come: the dark years of the Estado Novo dictatorship. During his exile in Paris (1926-1933), and born from his readings of Proudhon and Antero, António Sérgio developed an interest in a form of association that inherited the spirit of mutuals, and whose first example of success was that of the Rochdale pioneers. Their cooperative (Rochdale Society of Equitable Pioneers, founded in 1844), both an association and a company, was able to find economically viable solutions on a solidary basis (one member one vote, a fundamental principle that radically contradicts the capitalist principle that implicitly equates the possession of capital to power, namely political power) and was also able to formulate its ideals in an elevated manner: ‘That as soon as practicable the Society shall proceed to arrange the powers of production, distribution, education and government, or in other words, to establish a self-supporting home colony of united interests, or assist other societies in establishing such colonies’.[1] Upon his return, having understood the concrete value of the cooperativist ideal, and who were its greatest theorists in France (in the good sense of the word, meaning depth and breadth of scientific understanding), Sérgio will translate and present the ideas of Charles Gide, and will be fully committed to the cooperativist cause, even to the point of sacrificing his work as a writer of ideas (in addition to his petty bourgeois happiness, which he never really care for). But this sacrificial commitment was for ideas, and good ideas at that, as we will now recall. Charles Gide is an economist with a Christian background who, from 1885 onwards, collaborates with the founders of the School of Nîmes - Auguste Fabre and Edouard de Boyve - and who, from 1922, teaches at the Collège de France, holding the chair of Cooperation. Gide gives great importance to consumer cooperatives and theorises the foundations for the principle of consumer hegemony, where the classical tradition in economics attributed primacy to the producer; to do so, he relied on the thinking of marginalist economists - it is worth remembering that Léon Walras (1834-1910), one of the most distinguished marginalist economists, was a friend of Gide. The novelty of this school of economic theory was its assumption that the value of a good does not derive exclusively from the cost of production and the requisite work, and depends mostly on its usefulness, or its desirability in the eyes of the consumer, the intensity of the need that is experienced given the available quantity of said good (its scarcity) and the consumer/acquirer’s perception thereof. Thus, value acquires a psychological, subjective dimension, which justifies the primacy of the consumer - the consumer cooperative can thus be understood as a natural vehicle for the consumer to exercise their power - fighting for a fair price, or for the pure and simple distribution of goods in the case of proven abundance. By organising, and becoming aware of their status and priority needs, consumers can stop being victims of intermediation and the mutual interest agreements between producers and sellers which eliminate real competition and allow for price speculation, and of a production that does not meet their most pressing and real needs, due to the absence of planning based on those needs.[2] But in Gide's thinking, for cooperatives to build a consumer kingdom - gradually conquering trade, the manufacturing industry and the agricultural industry - small cooperatives need to be federated, advancing towards the constitution of a Cooperative Republic, in which the means of production pass from the hands of producers (capitalists) to the hands of consumers-citizens, in the name of social justice. To be clear, the primacy of the consumer, an economy based on the consumer's needs, cannot overlook the fact that, despite the availability of machines, the production of goods requires work that is largely done by humans, and the efficiency of which is associated with worker alienation, as exemplified by the Taylorist and Fordian inclination, and mass production in production chains, very much in contrast to artisanal and creative work. Therefore, the inevitable competition between the cooperative and capitalist sectors poses serious problems to cooperativist thought and practice. A free time society governed by a humanist ideal requires less painful work, and thus, maximisation of utility as the simple interest of the consumer cannot be the guiding principle, since it alienates producers, and citizens are both producers and consumers. Hence the need for an experimentalist attitude, mindful of concrete facts, of solutions to problematic situations, and the primacy of the moral attitude, which for Gide is the adherence to a solidarist morality, in which individuals make an effort for each other: ‘it is the sacrifice of a part of our individual self to acquire a share of our collective self’.[3] It is Gide himself who makes the distinction between Marxism-Leninism and the socialist tradition of the cooperative ideal subscribed by Antero and António Sérgio: ‘cooperatism is very similar to the French socialism of the last century (the 19th century): the resemblance is such that it can even be said that it is today the most faithful expression thereof’.[4] It should be noted, however, that while Gide bet heavily on the cooperativist movement - especially in consumer cooperatives, he maintained an open, experimental and evolutionary attitude towards all forms of social organisation that favour an economy that is not dominated by the imperative of profit, allow for the peaceful improvement of living conditions, and solidarity between people. Gide bet on experimentalism because he recognised the unpredictability of social evolution, which is given to ‘corsi e ricorsi’, so that a solution that fails in a given context may prove to be fruitful in another context, a pluralist argument par excellence. Consumer cooperatives can be a solution for a given historical-social context, but pragmatic solutions in favour of a social economy must always be based on people's actual daily lives. Gide thought of cooperatives as ‘Laboratories for social experimentation’, where the working classes could educate themselves, particularly in the management of economic affairs, to one day take the destiny of the economy into their hands, abolishing the inequalities of a society dominated by the profit economy. But he did not rule out the possibility that the cooperative sector would maintain good relations with a strong public services sector, nor a form of social development that would allow for a positive role of private initiative, trade unions, and other types of cooperatives, mutuals and associations - in some way, the thought of a third option was reasonable to him, one where the market economy would coexist with other sectors without capitalism becoming hegemonic. This attitude is also found in António Sérgio; here is an example of this, in an interview from 1939, when asked about the topic of War, he replied, in a clear warning to the dangers of excessive planning in a regime in which the correction of inequality between employers and employees had allowed an elite of state bureaucrats to emerge: The attitude of intellectuals in the face of war, in my view, and above all, should be to study social reform capable of avoiding war in the future. Here, I suppose, one should go from the inside-out, not from the outside-in. In other words: the changes should not take place at the level of foreign policy across the various states, but in the internal, economic and social structuring of each nation. At this point, it would be a mistake, I conjecture, for people like the English or the French to want to imitate anything that has already been done, or to try to establish a regime that, introducing economic planning and ending with exploitation and speculation, did not seek, at the same time, the maximum possible freedom, the maximum respect for the human person. Why? Because desirable planning is the planning for freedom, obtained by the vigilance of the governors. It is not a matter of choosing between everything and nothing - between rigid planning, on the one hand, and a perfectly casual and automatic market economy on the other - but of combining socialist planning with the market price regime, based on acceptance of the complexity of things. So that, in order to undertake serious endeavours, we should not be given to simplistic conceptions, but delve into the political economy and study the concrete problems of the economy of our time, determining how prices and their correlates - currencies and markets - can be adapted to a planned economy.[5] From a theoretical point of view, it is worth remembering that Gide is the author of one of the great economic treaties of his time (the Principes d’économie politique have been translated into 19 languages), and while he may not have been an original and innovative thinker of the stature of his friend Léon Walras, he always knew how to insist on how pure economic models, based on the hypothesis of a Homo œconomicus, were unable to perfectly capture the practical economy, the understanding of which is a theoretical project greater than that of pure economy, and should include the importance of history, institutions and the state, the role of morals, etc.[6] Finally, in these times when the future of humanity is threatened by unbridled exploitation of natural resources, and when the market-technoscience complex has reinforced the systemic nature of the relationships between all of us to a point never seen before, making us believe that the ‘technological fix’ is a panacea for all problems and that we are on the right path towards a society of abundance, where economic growth is not overshadowed by any sort of Malthusian cloud (‘the webs that the Empire weaves’ as Fernando Pessoa would say), it is worth remembering more reasons for the relevance of Charles Gide's alternative thinking: he was very interested in consumer education, supporting, for example, the formation of associations dedicated to fair trade and drawing attention to the dangers of unbridled consumption that threaten the environment and natural species. REFERENCES FURLOUGH, ELLEN (1999) ‘French consumer cooperation, 1885-1930: from the “third pillar” of socialism to “a movement of all consumers”’, in ELLEN FURLOUGH and CARL STRIKWERDA (eds.) (1999) Consumers against capitalism?, Lanham: Rowman and Littlefield publishers. GIDE, CHARLES (2001) Les oeuvres complètes de Charles Gide - Volume IV Coopération et économie sociale 1866-1904 Présenté et annoté par Patrice Devillers, Paris: L’Harmattan. NAMORADO, RUI (2005) Cooperativismo: Um horizonte possível, conference held in Coimbra on 11-3-2005. Available online. PÉNIN, M. (2006) ‘Charles Gide est-il toujours d’actualité ?’, Revue internationale de l'économie sociale, Nº 301, 65–81. Available online. [1] Article one of the statutes of the Rochdale Society of Equitable Pioneers, cited from GIDE 2001, p. 13. The new-found viability resulted from modifying the principles of other unsuccessful cooperatives - members of the consumer cooperative became able to purchase at the current price instead of the resale price (thus generating larger surpluses that enabled an injection of capital in the company) and, with the purpose of increasing the number of clients, dividends were distributed in proportion to the purchases made by each member, GIDE 2001, p. 15-16. For a modern introduction to the theme of cooperative principles and values, see NAMORADO 2005. [2] Consider two illustrative quotes by Charles Gide: ‘Desire, here is the only cause of value, so I proposed the word value be replaced with the word desirability (désirabilité)’ in ‘Le matérialisme et l'économie politique’, Revue d'Économie Politique (REP), 1912; ‘Accumulate all the work you want, petrify the iron or clay and all you will get is an unsellable item, which is therefore useless, until the day when the desire of the consumer will give life to such inert matter, breathing soul into it in the form of value’, in Leçon inaugurale à la chaire de coopération au Collège de France: ‘La coopération et la place qu’elle réclame dans l'enseignement économique’, REP, 1922, cited from GIDE 2001, p. 17-18. [3] Charles Gide, La mise en pratique de la solidarité dans les coopératives, conférence donnée à l'Ecole des hautes études sociales le 21-01-1903 et reproduite dans les conférences de propagande, seconde édition 1906, Sirey, p. 326-356, cited from GIDE 2001, p. 21. Alongside Durkheim, Fouillée, and Léon Bourgeois, Gide is one of the great thinkers of the republican solidarist doctrine in France. [4] See Charles Gide: ‘Le programme coopératiste’, 1924, in Œuvres, vol. VII, p. 284, cited from PÉNIN 2006 p. 78. On the divisions and recompositions of the cooperativist movement in France, motivated by ideological disputes, see FURLOUGH 1999. [5] António Sérgio, article in O Diabo newspaper, 1939, no. 239, p. 7. [6] See PÉNIN 2006, p. 69 and following. |