O MOVIMENTO ASSOCIATIVO POPULAR
– RAÍZES E FUTURO Sérgio Pratas Vice-Presidente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura Recreio e Desporto (CPCCRD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 – O processo de modernização da sociedade portuguesa
Após a Revolução Portuguesa de 1974/75, assistiu-se a um crescimento significativo e generalizado das associações, cooperativas e fundações. Crescimento que não pode ser dissociado da transição de regime, a que se seguirá um quadro de maior porosidade do Estado à participação da sociedade civil e a implementação de vários incentivos – políticos e legais. Esta mudança acabou por abarcar várias “famílias” associativas e muito em particular a das associações de cultura, recreio e desporto – que tiveram um crescimento substancial nesse período. Verifica-se, por outro lado, que o crescimento se tem mantido constante (incluindo já o século XXI): das atuais associações com atividades de cultura, comunicação e atividades de recreio, 15 936 foram criadas no século XXI (48% das ativas). Para além desse crescimento contínuo, que outros traços podemos apontar sobre a evolução deste particular tipo associativo (das associações de cultura, recreio e desporto)? O que mudou nas últimas décadas? O que mudou em Portugal (com reflexos na vida das associações)? A legislação associativa foi alterada? Com que efeitos? As associações conseguiram adaptar-se ao novo contexto tecnológico? O que mudou internamente? Para responder a estas questões, foram mobilizados dois recursos distintos – e complementares. Em primeiro lugar, dados recolhidos através de entrevistas semi-diretivas aos dirigentes das estruturas do CNAP (Conselho Nacional do Associativismo Popular) e da CPCCRD (Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto). A que se juntaram dados de fontes secundárias, com particular destaque para dois estudos realizados no Concelho de Loures – de caracterização das associações de cultura, recreio e desporto. Estudos que – face ao campo de observação e objetivos – permitem uma análise longitudinal. A sociedade portuguesa tem vindo a conhecer, ao longo das últimas décadas, um significativo processo de modernização, e que se traduz em domínios muito diversos: - A transformação das estruturas económicas e empresariais;
- O desenvolvimento da ciência e da tecnologia; - A escolarização das novas gerações e a recomposição socioprofissional; - A feminização e progressiva terciarização do trabalho; - A urbanização da população e dos espaços; - A alteração dos padrões demográficos e de vida familiar; - A democratização das estruturas políticas; - E a mediatização do espaço público e o alargamento do acesso tecnologicamente suportado à informação (Cardoso et al., 2015: 19). Processo que está, todavia, longe de estar terminado; e não foi linear, nem isento de obstáculos e contradições. E que conduziu o país a uma encruzilhada:
Qual foi o impacto desse processo de modernização na vida das associações? Quais as transformações com maior impacto nas associações de cultura, recreio e desporto? Questionaram-se os dirigentes com presença no CNAP e os presidentes das estruturas da CPCCRD a esse propósito. E os entrevistados referiram (e acentuaram) as seguintes mudanças:
Todas estas mudanças tiveram impacto na vida interna das associações de cultura, recreio e desporto. Mas houve também opções próprias, do movimento associativo, com implicações relevantes. Os dirigentes entrevistados referem a este propósito o papel essencial das estruturas de representação coletiva das associações, fundamentalmente a quatro níveis:
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ENG
THE POPULAR ASSOCIATIVE MOVEMENT – ROOTS AND FUTURE
Sérgio Pratas Deputy Chair of the Portuguese Confederation of Leisure and Sports Culture Collectives (CPCCRD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. The modernisation process of Portuguese society
After the 1974/75 Portuguese Revolution, there was a significant and widespread growth in associations, cooperatives and foundations. That growth cannot be dissociated from the regime transition, which was followed by a situation of greater porosity of the State to the participation of civil society and the implementation of different incentives – political and legal. This change ultimately encompassed several associative “families”, in particular cultural, leisure and sports associations, which underwent substantial growth in that period. On the other hand, one can see that growth has remained constant (including in the 21st century): of the current associations with cultural, communication and leisure activities, 15,936 were created in the 21st century (48% of those active). In addition to this continued growth, what other traits can one note about the evolution of this particular type of association (cultural, leisure and sports associations)? What has changed in the last few decades? What has changed in Portugal (with an impact on the life of associations)? Has associative legislation been changed? To what effect? Have the associations managed to adapt to the new technological context? What has changed internally? To answer these questions, two different – and complementary – resources were deployed. Firstly, data collected through semi-directive interviews with the leaders of the structures of CNAP (National Council of Popular Associations) and CPCCRD (Portuguese Confederation of Culture, Leisure and Sports). Data from secondary sources were added, with particular emphasis on two studies carried out in the Municipality of Loures to characterise culture, leisure and sports associations. Such studies – in view of the field of observation and objectives – allow for a longitudinal analysis. Portuguese society has known, over the last decades, a significant process of modernisation, which translates into very diverse domains: - Transformation of economic and business structures; - Development of science and technology; - Education of new generations and socio-professional reorganisation; - Feminisation and progressive outsourcing of work; - Urbanisation of the population and spaces; - Changing demographic and family life patterns; - Democratisation of political structures; - And media coverage of the public space and widening of technologically supported access to information (Cardoso et al., 2015: 19). This process is, however, far from finished; and it was not linear, nor was it free from obstacles and contradictions. And that left the country at a crossroads:
What was the impact of this modernisation process on the life of associations? What transformations have greater impact on cultural, leisure and sports associations? The leaders present in CNAP and the chairs of the structures of CPCCRD were questioned about this. And the interviewees mentioned (and emphasised) the following changes:
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