Joaquim Pequicho
Administrador da FENACERCI
Administrator of FENACERCI |
AJUSTAR AS “VELAS” NA TRANSIÇÃO DIGITAL DA ECONOMIA SOCIAL
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Utilizo a analogia náutica para manifestar a minha preocupação com os riscos de exclusão e de criação de maiores desigualdades em que o processo de transição digital poderá incorrer. Quando velejamos procedemos ao ajuste de velas para adequarmos a relação entre o vento e as velas, assegurando que mantemos o rumo certo e a velocidade adequada às condições de contexto.
A transição digital, vista como um fator competitivo, não é sensível a estas preocupações que as organizações da economia social, no meu entender, deverão trazer ao seu encontro e ao seu plano de ação. Estou em crer que existe um contexto favorável de mudança e de procura de uma nova geração de organizações. Mas este sentido não altera o cumprimento da sua missão e, fundamentalmente, a consciência coletiva de manter o seu compromisso com os processos de capacitação para a inclusão, com a correção das desigualdades e com a defesa dos direitos das pessoas. Como referi, procuramos incessantemente uma nova geração de organizações para estes processos de transição, mas não podemos correr riscos de distanciamento face aos princípios ativos da economia social, tal como manifesta com enorme preocupação o professor Rui Namorado, sinalizando que “…a cooperação livre entre iguais, a solidariedade reciprocitária comunitariamente radicada, foram perdendo espaço, foram ficando subalternas, perante a lógica impositiva das sociedades de exploração que se foi tornando dominante”. Num contexto de afirmação da missão das organizações e de compromisso com a inovação colocam-se grandes desafios às mesmas. A necessidade de uma maior agilidade organizacional, de adaptação aos ciclos de mudança e de crises por parte das organizações e dos seus agentes, mas, fundamentalmente, a procura de novas formas de atuar e de participação das pessoas que servem e apoiam. A estes desafios, particularmente na transição digital, teremos que inequivocamente associar o aumento das competências de todos os envolvidos como uma das prioridades procedentes. MAS ESTE É TODO UM PROCESSO COMPLEXO, CONTÍNUO E DISRUPTIVO Entendo que, para o seu cumprimento, precisamos de capacitar as organizações, todos os seus agentes e, essencialmente capacitar as pessoas com as quais trabalhamos, servimos e apoiamos. Corrigir a iliteracia digital, particularmente em públicos com maiores vulnerabilidades (como é o caso das pessoas com deficiência Intelectual, em que a sua capacidade cognitiva pode encontrar-se comprometida e, para as quais as aprendizagens têm uma diferente complexidade), é um desafio que a Economia Social e as organizações do Setor Social e Solidário deverão caminhar de braços dados. Aprender como utilizar as ferramentas digitais, preparar as pessoas para o saber fazer e utilizar e trabalhar quais os limites da sua utilização, são dimensões profundamente complexas e sobre as quais precisamos pensar. Se não o fizemos de imediato, estaremos indubitavelmente a perpetuar as desigualdades e acentuar os fatores de exclusão social, que não são mais do que colocar os direitos das pessoas em suspenso. É pois, este ajustamento das “velas” que é necessário tomar consciência coletiva para que possamos chegar a “bom porto”. Mas esta correção de rota ou de velocidade não deverá abdicar de processos de Inovação Social e a transição digital está implicitamente comprometida. Desde logo, no gerar oportunidades de Acessibilidade, quer seja utilizado ferramentas de Leitura Fácil ou de Design Acessível que beneficiam a todos sem exceção contribuindo para uma inclusão dos públicos com mais vulnerabilidade já referidos. Mas também contribuindo para a inclusão económica destes públicos específicos cooptando-os para um processo de participação social mais justa e inclusiva. Bastaria, por exemplo, atribuir a pessoas com deficiência intelectual a qualidade de validadores dos conteúdos dos sites em formato acessível. Estou em crer que se tivermos estes aspetos em atenção estaremos a contribuir para observar impactos sociais nas pessoas envolvidas e na criação de novos espaços de participação. Muitos outros exemplos poderia partilhar, mas estou convicto que se ajustarmos as “Velas” poderemos assumir o Digital como uma ferramenta ao serviço da inclusão. Acho que a transição digital está em curso. Não há volta a dar. Só falta todos entrarmos a “bordo”. |
I resort to a nautical analogy to express my concern with the risks of exclusion and the creation of greater inequalities posed by the process of digital transition. When we sail, we adjust the sails to adjust the relationship between the wind and the sails, ensuring that we stay on course at the appropriate speed given our surrounding conditions.
Viewed as a competitive factor, the digital transition is not sensitive to these concerns that social economy organisations should, in my opinion, aim for and include in their action plan. I believe that there is a favourable context of change and demand for a new generation of organisations. But this does not alter the fulfilment of its mission and, fundamentally, the collective consciousness of maintaining its commitment to the processes of training for inclusion, the correction of inequalities and the defence of people's rights. As I mentioned, we are incessantly looking for a new generation of organisations for these transition processes, but we cannot run the risk of distancing ourselves from the active principles of the social economy, as Professor Rui Namorado expresses with great concern, signaling that ‘...free cooperation between equals, reciprocal solidarity with communal roots, gradually lost ground, became subordinated, in the face of the imposing logic of exploitative companies as the former became dominant’. Great challenges are posed to organisations in a context of affirmation of their missions and commitment to innovation. The need for greater organisational agility, for organisations and their agents to adapt to cycles of change and crises, but fundamentally, the search for new ways of acting and for the participation of the people they serve and support. To these challenges, particularly in the digital transition, we will have to unequivocally associate the increase in the skills of all those involved as one of the priorities. BUT THIS IS A COMPLEX, CONTINUOUS AND DISRUPTIVE PROCESS I understand that, in order to comply, we need to empower organisations, all their agents, and essentially empower the people we work with, serve and support. Correcting digital illiteracy, particularly in audiences with greater vulnerabilities (as is the case of people with intellectual disabilities, whose cognitive capacity may be compromised and for whom learning has a different complexity), is a challenge that the Social Economy and the organisations of the Social and Solidarity Sector should face arm in arm. Learning how to use digital tools, preparing people with know-how, and working out usability limits are deeply complex dimensions that we need to think about. If we don't do it right away, we will undoubtedly be perpetuating inequalities and accentuating factors of social exclusion, which is nothing more than putting people’s rights on hold. It is, therefore, this adjustment of the ‘sails’ that must become collective awareness so that we can reach ‘safe port’. But this course or speed correction should not abdicate Social Innovation processes, and the digital transition is implicitly committed. From the outset, by generating Accessibility opportunities, whether using Easy Reading or Accessible Design tools that benefit everyone without exception, contributing to the inclusion of the more vulnerable audiences mentioned above. But also by contributing to the economic inclusion of these specific audiences by co-opting them into a fairer and more inclusive process of social participation. For example, it could take something as small as assigning people with intellectual disabilities the role of validating contents for accessible sites. I believe that if we have these aspects in mind we will have a social impact on the people involved and contribute to the creation of new spaces for participation. There are many other examples I could share, but I am convinced that if we adjust the ‘Sails’ we can assume Digital as a tool at the service of inclusion. I believe digital transition is underway. There is no turning back. All that's left is for everyone to get aboard. |