Nuno Jorge
Coordenador do Mestrado
em Gestão de Organizações de Economia Social Escola Superior de Gestão e Tecnologia – Instituto Politécnico de Santarém Coordinator of the Master’s in the Management of Social Economy Organisations School of Management and Technology – Polytechnic Institute of Santarém |
A ECONOMIA SOCIAL
|
Completa-se este ano uma década sobre o dia em que recebi um mail desafiante, enviado por um colega que se preparava para se aposentar.
Esse colega era, então, o coordenador de um mestrado que tinha tido uma 1ª edição em 2010 (após uma curta e irregular «vida» como pós-graduação), mas que não mais conseguira reunir candidatos suficientes para abrir uma 2ª edição. Perante esse desafio, lançado por um colega que eu muito estimava (Fernando Lucas) e reforçado por outro, que me tinha «levado» para Santarém (Hélder Pereira), senti-me tentado a aceitar o convite, apesar de não ser formado na área nuclear do curso e de não ter nenhuma ligação e conhecimento do setor da Economia Social. Afinal, estava então mais disponível (tinha terminado o doutoramento meses antes), nunca tinha sido responsável por nenhum curso na Escola onde lecionava há 14 anos, confiava no corpo docente do curso, e conhecia a minha capacidade de trabalho. Acima de tudo, pesou na decisão a ideia de que poderia dar um contributo importante para que o curso se afirmasse, na oferta formativa da Escola. A Escola era (e é) a Escola Superior de Gestão e Tecnologia do Politécnico de Santarém, e o Mestrado era (e é) o de Gestão de Organizações de Economia Social (MGOES). Confirmada a proposta e a eleição formal no Conselho Técnico-Científico da Escola, «arregacei as mangas», com a ideia de garantir a viabilidade de uma 2ª edição do curso, no ano seguinte. Constituí uma base de dados com contactos de ex-estudantes da Escola e outros eventuais interessados, criei uma página no Facebook, apostei na divulgação - fiz tudo o que me parecia necessário para ter os 15 inscritos que viabilizariam a reabertura do curso. Em outubro de 2013, tinha o resultado desse investimento – 15 novos estudantes (14 portugueses e 1 brasileiro) inscritos no 1º ano. Esta primeira turma que coordenei viria a ter um conjunto de caraterísticas muito idênticas à maioria dos estudantes que se seguiram – 80% de mulheres, uma média de idades a rondar os 35 anos, metade de licenciados em Serviço Social e Educação Social, com origens geográficas que iam desde Leiria à Vidigueira, e um «pequeno-grande» desvio ao Brasil. Nesse ano, além de coordenador, iria estrear-me também como docente no mestrado, lecionando a unidade curricular de Enquadramento da Economia Social. Era uma forma de ir pesquisando e aprendendo sobre o setor, à medida que ia aprendendo a ser coordenador. As aulas correram de forma exemplar e recordo com saudade as intervenções assertivas e curiosas de uma turma composta por estudantes com perfis e percursos muito diversos, e os convívios que organizámos, no final de cada semestre. O espírito de grupo MGOES começava a consolidar-se. A 3ª edição do curso contou com 17 estudantes inscritos, dois deles que tinham completado a pós-graduação anos antes e agora pretendiam obter o grau de mestre. Para isso, apenas necessitavam de concluir três unidades curriculares e a dissertação, o que viriam a conseguir. Nesta edição, passei a contar com a colaboração (indispensável) do subcoordenador que me acompanha até hoje, o meu colega Pedro Oliveira. A 4ª edição trouxe um desafio novo – acolher dois estudantes estrangeiros (um líbio e uma camaronesa), fruto da aposta do Instituto Politécnico de Santarém na divulgação internacional da sua oferta formativa. A questão da barreira linguística colocava-se pela primeira vez, pois nenhum destes estudantes falava português, e era necessário integrá-los da melhor forma. A solução encontrada, e que foi exemplarmente concretizada pelos docentes do mestrado, foi fazer tutoria a estes dois estudantes, em língua inglesa. A verdade é que ambos conseguiram concluir a parte curricular do mestrado no tempo previsto, que um deles concluiu a sua dissertação (escrita em língua inglesa) e o outro fez um estágio numa ONG, não finalizando o seu relatório, apenas por motivos pessoais. Na edição seguinte (iniciada em 2016), voltámos a ter um estudante brasileiro, mas a grande notícia foi recebida em novembro, quando recebemos o Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio, na categoria Formação Pós-Graduada. Este foi talvez o momento alto destes 10 anos de coordenação, pois o MGOES estava a ser reconhecido pela entidade de referência da Economia Social, em Portugal. O prémio seria entregue em fevereiro de 2017, no Porto, e recordo-me de na altura o ter partilhado simbolicamente com os restantes cursos candidatos – do Instituto Politécnico do Porto, do Instituto Superior de Serviço Social do Porto, e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Foi um orgulho representar um pequeno instituto, como é o de Santarém, e dedicar o prémio aos colegas que me antecederam e acompanham na coordenação e no corpo docente, e aos estudantes, pois são eles a razão de existência do curso. Foi com muita alegria, também, que testemunhei a entrega do valor monetário do prémio a diversos estudantes do MGOES, que dessa forma puderam financiar uma parte substancial das suas propinas. Na 6ª edição voltámos a ter um grande desafio; além de dois estudantes brasileiros, recebemos o nosso primeiro estudante oriundo da Guiné Bissau, e outro de Timor Leste – o Domingos. Toda a gente no MGOES se recorda deste estudante dócil, simpático, mas… com evidentes dificuldades de comunicação em língua portuguesa (e mesmo em língua inglesa). Com muito esforço de parte a parte, essa limitação foi sendo ultrapassada, e o Domingos persistiu no curso, só sendo travado por uma doença que o afetou e levou a estar internado no Hospital de Santa Maria durante 8 meses. Durante esse período, recebeu a visita de colegas, de docentes, do coordenador do curso e até da mãe de uma funcionária do Instituto Politécnico que – sensibilizada pela sua situação - lhe foi dar um alento. Felizmente, em janeiro de 2020, 2 meses antes de uma pandemia que tudo encerrou, o Domingos conseguiu ter alta médica e regressar ao seu país (a propósito, continua saudável - até hoje). A vida no MGOES prosseguia sem interrupções e na 7ª edição disparam o número de candidatos provenientes do mundo lusófono – começamos a ter de fazer uma seleção específica e, em outubro, tínhamos 5 novos estudantes guineenses e um moçambicano. Pela primeira vez, o MGOES ultrapassou a barreira dos 20 estudantes matriculados e a concluir a parte curricular. No ano seguinte, esse número de estudantes estrangeiros atingiria um recorde - 8 guineenses e um brasileiro, número igualado em 2020, já durante a pandemia (com 8 guineenses e um moçambicano). Durante os vários confinamentos, é de registar a forma exemplar como toda a comunidade MGOES (docentes e estudantes) se adaptou ao novo normal, que durante meses a fio foi ter as aulas e as avaliações através das plataformas Zoom e Exam.net. Mais um desafio superado com distinção! No final de 2021, nova distinção encheu-nos de orgulho. Cinco anos depois de o Mestrado ter recebido este galardão, na categoria de Formação Pós-Graduada, uma nossa ex-estudante recebeu o Prémio António Sérgio 2021, pela sua dissertação, e um nosso atual docente recebeu uma menção honrosa, pela sua tese de doutoramento. Ao fim de 10 edições, tivemos já cerca de 180 estudantes a frequentar o curso (entre eles, a título de exemplo, dois presidentes e dois vice-presidentes da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Santarém, um Presidente do Rotary Clube de Santarém, um vereador de uma câmara municipal e uma presidente de assembleia de união de freguesias). De entre aqueles 180 estudantes, 34 concluíram as suas dissertações, com temas tão díspares como o desenvolvimento local, a liderança, o impacto social, a gestão da qualidade ou a responsabilidade social, entre muitos outros. Em 10 anos, realizámos cerca de 60 seminários abertos à comunidade, com convidados provenientes das várias «famílias» da economia social, procurando cobrir todas as áreas da Gestão, como por exemplo, a angariação de fundos, o marketing, a liderança ou o empreendedorismo social. Essa dinâmica permitiu aos nossos estudantes conhecer o setor nas suas várias valências, potencialidades e desafios. Na memória, ficam também dois Workshops sobre Avaliação de Impacto Social, que permitiram oferecer formação adicional, numa área crítica dos dias de hoje, e duas Conferências de Ideias Criativas para a Economia Social (com apresentação dos projetos de dissertação dos nossos estudantes), que foram essenciais para dar visibilidade ao trabalho que desenvolvem. Em jeito de balanço, até agora, posso considerar este percurso um sucesso. Tem sido um orgulho imenso coordenar este mestrado, dando o meu contributo para que ele se consolide na oferta formativa do Instituto Politécnico de Santarém e para que cumpra a sua missão – melhorar as competências e capacidades, ao nível da Gestão e não só, de todos aqueles que nos procuram. |
This year marks a decade since I received a challenging email from a colleague who was about to retire.
This colleague was, at the time, the coordinator of a master’s degree which first ran in 2010 (after a short and bumpy “life” as a postgraduate course). However, it did not attract enough candidates to open in the following year. Faced with this challenge, launched by a colleague I held in high esteem (Fernando Lucas) and reiterated by another who had “taken” me to Santarém (Hélder Pereira), I was tempted to accept the invitation, despite not being trained in the core area of the course and having no connection to or knowledge of the Social Economy sector. After all, I was a relatively free at the time (I had finished my PhD a few months earlier) and I had never been responsible for a course at the school where I had been teaching for 14 years. What I did know was that I could trust the course teaching staff and my own capacity for work. My decision was primarily based on the idea that I could make a sufficiently important contribution to ensure that the course became a regular part of the school’s training offer. The school was (and is) the School of Management and Technology at the Polytechnic of Santarém, and the master’s degree was (and is) the Management of Social Economy Organisations (MGOES, in Portuguese). After confirming the proposal and having been formally appointed by the School’s Scientific and Technical Council, I “rolled up my sleeves” and got down to ensuring the feasibility of running the course in the following year. I set up a contacts database of former students and other potentially interested parties. I created a Facebook page. I invested in dissemination. In short, I did everything I thought necessary to get the 15 enrolments that would allow the course to reopen. In October 2013, the effort paid dividends - 15 new students (14 Portuguese and 1 Brazilian) enrolled in the 1st year. The makeup of the first group that I coordinated proved to be highly similar to that of most of those that followed. Eighty percent were women, they had an average age of around 35, half were graduates in Social Services or Social Education and they came from an area between Leiria and Vidigueira, apart from one outlier from Brazil. In addition to being course coordinator that year, I also debuted as a lecturer on the master’s programme, teaching the “Framework of the Social Economy” subject. It was a good way of researching and learning about the sector, as I was learning to be a coordinator. The classes went really well and I look back with fondness on the assertive and curiosity-driven interventions of a class composed of students with very diverse profiles and paths, and on the get-togethers, we organised at the end of each semester. The MGOES group spirit was beginning to take shape. Seventeen students enrolled for the third edition of the course. Two of these had completed their postgraduate studies years before and now wanted to obtain a master’s degree. To achieve this, they only needed to complete three curricular units and a dissertation, which they managed to do. In this edition, I started to count on the (indispensable) collaboration of an assistant coordinator who has been by my side to this day, my colleague Pedro Oliveira. The fourth edition brought with it a new challenge—to welcome two foreign students (a Libyan and a Cameroonian), the result of the Polytechnic Institute of Santarém’s investment in the international dissemination of its training offer. For the first time, the question of a language barrier arose, as none of these students spoke Portuguese. We had to find the best possible way of integrating them. The solution that we found, which was admirably implemented by the teachers on the master’s course, was to provide tutoring in English for these two students. The truth is that both managed to complete the curricular part of the master’s degree in the time allotted. One of them completed his dissertation (written in English) and the other did an internship in an NGO. Only personal setbacks prevented him from finalising his report. In the following edition (starting in 2016), we had another Brazilian student. However, the really big news came in November, when we received the António Sérgio Cooperation and Solidarity Award, in the Postgraduate Training category. This was perhaps the highlight of these 10 years of coordination, as the MGOES had earned the recognition of the leading Social Economy entity in Portugal. The award was presented in February 2017, in Porto. I remember that, at the time, I symbolically shared it with the other candidate courses—from the Polytechnic Institute of Porto, the Porto Higher Institute of Social Services, and the Higher Institute of Social and Political Sciences at the University of Lisbon. To me, it was a source of pride to be able to represent a small institute like Santarém, and to dedicate the prize to the coordination and teaching staff colleagues who both came before me and worked alongside me and to the students, as they are the only reason the course exists. It also filled me with joy to see the prize money going to several MGOES students, who were able to use this to pay off a substantial part of their tuition fees. Yet another new challenge awaited the opening of our sixth edition. Besides two Brazilian students, we welcomed our first student from Guinea Bissau, and another from East Timor—Domingos. Everyone at MGOES remembers this easy-going, friendly student, but... he found it really hard to communicate in Portuguese (or even in English). We all worked hard to overcome this limitation and Domingos persisted with the course. The only thing that stopped him was an illness that put him in the Santa Maria Hospital for 8 months. During this period, he was visited by colleagues, teachers, the course coordinator and even the mother of a Polytechnic Institute employee who, touched by his predicament, came to give him a boost. Fortunately, in January 2020, 2 months before the pandemic closed everything down, Domingos was discharged and was able to return home (by the way, he is still healthy—to this day). Life at the MGOES went on as normal. For the seventh edition, the number of candidates from the Lusophone world shot up, and we had to start being selective. In October, we had 5 new students from Guinea Bissau and one from Mozambique. For the first time, over 20 students enrolled in the MGOES and went on to the complete the curricular part of the course. A record number of nine foreign students enrolled in the following year—eight Guineans and one Brazilian. This record was equalled in 2020 (eight Guineans and one Mozambican), in the midst of the pandemic. During the various lockdowns, the entire MGOES community (teachers and students) adapted to the new normal in an exemplary manner. Classes and assessments we all delivered through the Zoom and Exam.net platforms. Another challenge overcome with distinction! At the end of 2021, another distinction gave us great cause for pride. Five years after the Master’s received the award, in the Postgraduate Training category, one of our former students received the António Sérgio 2021 Award for her dissertation and one of our current lecturers received an honourable mention for his doctoral thesis. Over a total of ten editions, some 180 students have attended the course (including two chairs and two vice-chairs of the District Union of Private Social Solidarity Institutions of Santarém, one chair of the Rotary Club of Santarém, a municipal councillor and a chairwoman of a parish council). Of these 180 students, 34 have completed their dissertations, on topics as diverse as local development, leadership, social impact, quality management and social responsibility, amongst many others. In the 10 years, we have held around 60 open seminars for the community, with guest speakers from all the various social economy “families.” We have covered practically every area of management, including fundraising, marketing, leadership and social entrepreneurship. This dynamic has allowed our students to get to know all the various aspects, possibilities and challenges that the sector has to offer. We also ran two Social Impact Assessment workshops, which delivered additional training in one of today’s critical areas, and two Creative Ideas for the Social Economy conferences. As students presented their dissertation projects at these conferences, they proved to be a keyway of raising the profile of their work. On balance, and so far, I believe this journey has been a success. For me, it has been a great honour and source of pride to coordinate this master’s degree. I feel have made a contribution consolidate its place in the Polytechnic Institute of Santarém’s training offer and fulfilling its mission of improving the skills and capacities, at the management level and beyond, of all those who seek us out. |