A RESPOSTA DAS COOPERATIVAS AGRÍCOLAS
ÀS EXIGÊNCIAS DA RECUPERAÇÃO PÓS COVID Aldina Fernandes Secretária-Geral Adjunta da CONFAGRI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A situação de pandemia COVID19 em que vivemos nos últimos 4 meses e de fim ainda incerto, permite-nos antecipar os contornos de uma séria crise social e económica, que afetará o nosso país.
Importa, pois, refletir sobre as respostas mais eficazes, consistentes e duradouras, que devem ser postas em prática para atenuar as suas consequências. Da parte da CONFAGRI, entendemos como oportuno salientar as virtualidades do modelo cooperativo e, especialmente das cooperativas agrícolas que representamos, como resposta a alguns dos desafios que esta crise nos coloca. Combater Assimetrias À semelhança de crises anteriores, a crise COVID vai atingir com maior intensidade as populações mais vulneráveis e as empresas e os territórios mais frágeis, acentuando os desequilíbrios sociais e territoriais. As cooperativas agrícolas contrariam este fenómeno, na medida em que conferem escala, dimensão económica e promovem o acesso ao mercado de milhares de micros, pequenas e médias e até grandes empresas que se dedicam à produção agrícola, pecuária ou florestal. Por outro lado a sua distribuição no território (64% das cooperativas agrícolas portuguesas estão situadas em municípios do interior), a sua permanência no mesmo (em geral longa) e a diversidade dos serviços que disponibilizam (apoio técnico, fornecimento de fatores de produção, formação profissional e aconselhamento agrícola, entre outros), constituem mais-valias, dificilmente asseguradas por entidades de outra natureza e que muito contribuem para a dinamização da atividade económica nestas regiões. Promover a Produção Agrícola Nacional Uma das lições da crise COVID, é a evidência de que o País necessita de garantir níveis razoáveis de auto-abastecimento, que nos tornem menos vulneráveis a conjunturas internacionais adversas. Garantir alimentos essenciais à população, sãos, seguros e a preços acessíveis deve ser uma prioridade. Por outro lado, Portugal dispõe de boas condições para a produção de bens alimentares de elevada qualidade (vinho, azeite, lacticínios, frutas, hortícolas, …), reconhecidos a nível interno e externo, que importa continuar a valorizar, conquistando novos mercados e reforçando a sua produção e exportação. Muitas cooperativas agrícolas portuguesas desenvolvem já um excelente trabalho neste domínio, apostando de modo continuado na inovação, na qualidade e na internacionalização. A sua dinâmica induz, a montante, o desenvolvimento e modernização de largas centenas de explorações agrícolas dos seus cooperadores e os resultados económicos positivos que obtêm, revertem a favor dos cooperadores e do reforço da estrutura cooperativa. Poucas entidades económicas, têm esta capacidade, para agregar um tão grande número de agentes económicos – neste caso, os agricultores – e induzir o seu desenvolvimento. As características estruturais do nosso setor primário, nomeadamente a dimensão da propriedade, tornam ainda mais evidente a importância das cooperativas, como catalisadoras de um desenvolvimento económico mais inclusivo. Agentes Ativos da Sustentabilidade Ambiental As cooperativas agrícolas portuguesas são agentes ativos da sustentabilidade e a sua ação pode ser ainda potenciada. Primeiro, porque lidam diretamente com o ambiente e estão sensibilizadas para a importância da proteção de recursos como o solo, água, ar e da biodiversidade. Segundo, porque conhecem as aspirações da sociedade atual e das novas gerações, que valorizam cada vez mais os modos de produção “amigos do ambiente” e exigem a sua certificação. Terceiro, porque a ação das cooperativas em articulação com os seus cooperadores, pela sua escala de atuação, tende a ser uma ação relevante e particularmente eficaz a nível ambiental. Quarto, porque as cooperativas têm na sua matriz identitária o “Interesse pela Comunidade” (7.º Princípio Cooperativo), que estabelece: que as cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável das suas comunidades. Os desafios que se colocavam à sociedade portuguesa, antes da crise COVID eram já de si difíceis e exigentes. Esta crise, veio acentuar essas dificuldades e evidenciar a necessidade de acorrer prioritariamente às situações de maior vulnerabilidade e de robustecer o nosso tecido produtivo. Contudo, precisamos de enveredar por um desenvolvimento mais inclusivo, promotor de uma maior coesão económica, social e territorial. As cooperativas agrícolas são agentes ativos desse desígnio e a sua ação pode ser claramente potenciada através de políticas públicas que apoiem a sua atividade e não as esqueçam ou secundarizem como tantas vezes acontece. |