Sónia Fernandes
Presidente Executiva
da Pista Mágica – Associação Executive President of Pista Mágica – Association |
O VOLUNTARIADO E A INCLUSÃO
|
É natural que quando se fala em Voluntariado e Inclusão o nosso raciocínio nos conduza para uma ação voluntária que contribui para a inclusão dos beneficiários. Este artigo, porém, está focalizado no voluntariado como uma ferramenta de inclusão da pessoa voluntária. Para o efeito, partilhamos a visão do que na Pista Mágica consideramos que é o espetro de autonomia no voluntariado mais inclusivo.
Figura 1
Espetro de autonomia no voluntariado mais inclusivo – Pista Mágica Este espetro promove o empoderamento da pessoa voluntária e pretende assegurar o cumprimento do impacte da atividade, tanto para quem exerce o voluntariado (e que se encontra em situação de vulnerabilidade), como para quem beneficia dessa ação. Todo o voluntariado deve ser inclusivo, i.e., deve incluir todas as pessoas que pretendem ser voluntárias. Daí que todos os programas de voluntariado precisam contemplar a participação daqueles que enfrentam desafios de inclusão. No entanto, existem pessoas que estão, por exemplo, num processo terapêutico. Incluí-los num programa de voluntariado genérico (mesmo que inclusivo) poderia colocar em risco, tanto quem exerce o voluntariado como os beneficiários das suas ações. Nos dois primeiros pontos, inspiramo-nos nos conceitos de “emprego protegido[1]” e “emprego apoiado[2]”. Assim, no voluntariado protegido pretende-se proporcionar atividades de voluntariado num ambiente especificamente criado para garantir um espaço seguro na realização de atividades de voluntariado, que protege a pessoa voluntária tendo em conta a sua situação de vulnerabilidade. As pessoas voluntárias em situação de vulnerabilidade exercem atividade num contexto controlado, especificamente para elas. Um exemplo claro é a gestão de um programa de voluntariado em ambiente prisional. No voluntariado apoiado existe um acompanhamento personalizado da pessoa voluntária, tendo em consideração os desafios que enfrenta devido à sua situação de vulnerabilidade e de forma a ser usado todo o seu potencial. Cada pessoa tem um conjunto único de talentos que pode colocar ao serviço da comunidade. Neste voluntariado criam-se programas de voluntariado à medida do grupo que estamos a servir que tem o mesmo tipo de vulnerabilidade, por exemplo pessoas com deficiência. No voluntariado mais inclusivo as pessoas voluntárias são incluídas em programas que já existem, sendo ajustadas as funções aos seus talentos, potencialidades e desafios. São exemplo qualquer programa de voluntariado onde se estabelecem políticas e procedimentos nos programas de voluntariado organizacionais para que todas as pessoas possam realizar voluntariado. Neste último caso, não se prevê a necessidade de um acompanhamento personalizado e presencial da pessoa voluntária durante o exercício de voluntariado. A imagem atrás apresentada é um caminho com passos progressivos de autonomia, o que não significa que nesse percurso não se possa voltar atrás. Por exemplo pode-se começar pelo primeiro ponto, passar ao segundo e (por inúmeras razões) decidir regressar ao primeiro. Pode-se igualmente começar e permanecer no segundo. Tudo depende de cada pessoa e deve ser analisado caso a caso, pessoa a pessoa.
O exercício de Voluntariado como um direito universal
Há alguns anos frequentemente demonstrava a minha indignação por receber tantas pessoas em entrevistas de voluntariado recomendadas por psiquiatras e psicólogos. Aspirava participar em encontros destes profissionais para lhes solicitar que parassem de o fazer. Argumentava que voluntariado não é terapia, que antes de exercerem o voluntariado, as pessoas deveriam estar em boa forma física e psicológica. Figura 2
Pirâmide de Maslow criada por Abraham Maslow (1908-1970) Influenciada pela Teoria das Necessidades Humanas, desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow, rebatia que o ser humano deveria satisfazer algumas necessidades (que inclui cuidar de si) antes de começar a cuidar dos outros. A pirâmide de Maslow tem na base as necessidades fisiológicas (de sobrevivência como respiração, alimentação, repouso,…), a seguinte as necessidades de segurança (proteção física, abrigo, saúde,…), a terceira camada são as necessidades sociais (relação com os outros), a quarta camada são as necessidades de estima (valorização pessoal) e no topo da pirâmide está a autorrealização (conquista de desejos pessoais). Acreditava que idealmente o voluntariado deveria ser exercido quando tivermos atravessado as quatro primeiras camadas, as necessidades básicas e psicológicas. Excluía, portanto, as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, deixando-lhes apenas o papel de beneficiárias enquanto não atingissem o topo da pirâmide. Entretanto mudei de opinião: fruto da experiência de gestão de voluntariado no terreno, da curiosidade científica e da natural inquietude de quem quer fazer mais e melhor no mundo transformador do voluntariado. O primeiro choque com a realidade foi em 2004, quando estava a implementar o projeto “A Casa das Mães” numa zona remota em Timor-Leste (distrito de Lautem) com a associação Médicos do Mundo. A minha colega enfermeira Fátima Mendes insistiu em se criar um grupo de voluntariado de emergência nas aldeias. A ideia era que quando uma mulher entrasse em trabalho de parto, essas pessoas acionassem a ambulância de forma a transportá-las às instalações de saúde mais próximas para poderem dar à luz em segurança (a morbilidade-mortalidade materno-infantil era elevadíssima nessa altura). Isso exigia percorrer, às vezes, longas distâncias para aceder a um telefone e chamar a ambulância. Internamente foram acionadas campainhas ao recordar-me a célebre pirâmide de Maslow. Silenciosamente questionei-me: “Estão satisfeitas as necessidades básicas destas pessoas voluntárias?”; “As que não estão como poderemos incluí-las num esforço de voluntariado?”. A Fátima e a sua persistência fizeram-me ceder à ideia de experimentarmos, sem sentir a segurança de que funcionaria. O sucesso na dinamização deste grupo de voluntariado deitaram por terra as minhas dúvidas. Por outro lado, nas vastas horas de capacitação que ministrei, reiterava perspetivas baseadas em evidências. Uma delas eram os repetidos estudos científicos realizados em diferentes geografias e culturas que genericamente constatam o mesmo: quem exerce o voluntariado vive mais anos, é mais feliz e tem maior qualidade de vida. Ora, a partir de determinada altura, os mantras que ia repetindo pareceram-me paradoxais. Passo a explicar. Se, em pessoas ditas comuns, o voluntariado tem esse efeito positivo nas suas vidas, quanto impactará as vidas de quem está em situação de vulnerabilidade? Certamente será proporcional ao nível de vulnerabilidade em que se encontram. Mais, defendo há muito que a preparação é um direito universal das pessoas voluntárias que pode – no limite – salvar-lhes a vida e as de quem beneficia da sua ação (daí ter fundado a Escola de Voluntariado em Portugal em 2008). Dentro deste raciocínio, impedir as pessoas em situação de vulnerabilidade de realizar voluntariado é também uma violação dos seus direitos. Vedar-lhes a oportunidade de contribuir para o seu bem-estar ao mesmo tempo que contribuem para um mundo melhor é, no mínimo, grave! Por ser outra forma de exclusão social. Em consequência destas evidências e reflexões na Pista Mágica[3] – onde integramos a inovação social no Voluntariado – passamos a focalizar o nosso trabalho no voluntariado inclusivo. Em seguida apresentamos duas iniciativas-piloto que estão em fase de implementação. Voluntariado como ferramenta de inclusão social: uma proposta metodológica Em 2021 a Pista Mágica iniciou no âmbito da Iniciativa de Inovação e Empreendedorismo Social VOAHR[3] Municípios um levantamento de boas práticas de voluntariado inclusivo na zona da Área Metropolitana do Porto que permitiu a criação de uma proposta metodológica para tornar mais inclusivos quaisquer projetos ou programas de voluntariado. Nasceu, assim, o Guia para um Voluntariado mais Inclusivo (Fernandes et al.), que, com a implementação de projetos de operacionalização, deu forma a uma nova abordagem no terreno: a que assume o voluntariado como ferramenta de inclusão social, através do trabalho com pessoas em situação de maior vulnerabilidade. Esta metodologia tem 3 fases: Figura 3
Fases da metodologia do Voluntariado como Ferramenta de Inclusão Social (Pista Mágica) A Capacitação passa por 3 temáticas: autoconhecimento (baseada na Jornada do Herói, por Joseph Campbell), empatia e educação para o voluntariado (capacitação desenvolvida pela Pista Mágica nos últimos 14 anos).Após isto, iniciam-se as AGV em grupo, diretamente relacionadas com os interesses dos participantes e com as necessidades diagnosticadas na comunidade para a realização das atividades de Voluntariado. De seguida, cada participante tem pelo menos duas sessões de planeamento (individuais ou em grupo), baseado na Pedagogia da Interdependência, metodologia com vista à autonomia e realização de pessoas com deficiência e adaptada e testada pela Pista Mágica com outras populações vulneráveis, nomeadamente jovens institucionalizados e residentes em bairros sociais e pessoas com deficiência. Nestas sessões, cada voluntário pode desenvolver o seu Projeto de Felicidade, definir sonhos e objetivos concretos, assim como perceber, com a ajuda da equipa técnica, onde o voluntariado poderá ser útil para essa concretização. Iniciativas-piloto: Voluntariado Apoiado Passo a apresentar as duas iniciativas-piloto a serem implementadas no terreno na Pista Mágica que seguem a metodologia atrás mencionada e que é aplicada através do Voluntariado Apoiado: o Carry e o VolunTalento. Figura 4
Projetos-piloto de Voluntariado Apoiado em fase de implementação Carry O projeto pretende incentivar o envolvimento de adolescentes em situação de vulnerabilidade em atividades de voluntariado. A prática de voluntariado, enquanto ferramenta de inclusão social, pretende potenciar o empoderamento dos jovens contribuindo para a quebra do ciclo de pobreza e para um maior acesso a oportunidades. Tem na sua base um processo de capacitação em grupo, seguido de mentoria individual, apoiada na prática de voluntariado, e visa trabalhar com os jovens uma maior valorização do seu projeto de vida. Até agora capacitou mais de 40 adolescentes, integrou em atividades de voluntariado apoiadas mais de 20 e integrou em atividades de voluntariado mais inclusivas (em autonomia, sem supervisão de técnico) 6. O processo de avaliação de impacte está ainda a decorrer, no entanto, em termos de impacte comunitário há já resultados muito favoráveis até ao momento:
Para os beneficiários, o projeto representa uma oportunidade de valorização pessoal e tem recebido um feedback qualitativo muito positivo, que se demonstra pelos testemunhos que se sequem:
VolunTalento
A IIES VolunTalento propõe o voluntariado como uma solução para a inclusão de pessoas maiores de 18 anos (com incapacidade/deficiência) nas suas comunidades, através de uma intervenção estratégica e operacional de participação cívica e de experiência socioprofissional, visando melhorar o acesso das pessoas com incapacidade/deficiência à participação cívica através do exercício do voluntariado. A avaliação preliminar de impacto realizada por uma entidade externa, revela boas perspetivas da eficácia desta metodologia. No que respeita à dimensão relacional, perceciona-se uma evolução positiva entre T0 (média geral: 2,8) e T1 (média geral: 3,8). Na dimensão socioprofissional, perceciona-se igualmente uma evolução positiva entre T0 (média geral: 3,7) e T1 (média geral: 4,3), através de atividades de voluntariado, num total de 66 horas de voluntariado. Potenciando a autonomia e empoderamentos das pessoas com deficiência por via do voluntariado. Testemunho: [Sentes que ajudou a perceber o que queres e o que fazes bem?] sim…eu acho que percebi que a minha personalidade serve para alguma coisa… por exemplo, com os animais é bom ter uma personalidade calma [percebi onde a] minha personalidade pode ser uma vantagem e não uma desvantagem.” Conclui-se que, até ao momento, a iniciativa VolunTalento através das atividades de voluntariado potenciaram o empoderamento e ganho de competências de pessoas com deficiência/incapacidade leve a moderada. Esta ideia encontra-se presente tanto nos técnicos de acompanhamento, como no discurso dos participantes, que se obteve através da análise dos Focus Group. Testemunho: “Acho que antes de vir para o CIS e para o projeto VolunTalento era uma pessoa muito introvertida, muito para ela própria… não socializava muito… depois de vir para aqui comecei a sentir… aquela sensação que fazia parte de alguma coisa, que não era excluída…algo que senti a minha vida toda – Estar excluída… aqui eu não sinto isso – estar excluída – e aqui sinto que faço parte do grupo…é isso.” Notas finais O voluntariado é para todos e deve ser o exemplo daquilo que é a sua essência: o contributo para um mundo melhor. Daí ser necessário serem criadas as condições para também as pessoas em situação de vulnerabilidade poderem ter acesso ao exercício do voluntariado (sem as barreiras que ainda lhes são colocadas). Como fazer isso sem comprometer um voluntariado de impacte juntos dos seus beneficiários e sem prejudicar a pessoa voluntária? A Pista Mágica apresenta uma proposta de um espetro do voluntariado inclusivo para pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade com três dimensões: o voluntariado protegido, o voluntariado apoiado e o voluntariado mais inclusivo. Nas primeiras duas trabalham-se com grupos de pessoas que partilham o mesmo tipo de desafios à inclusão e na terceira promove-se a inclusão em programas de voluntariado existentes. Também nós estamos a fazer caminho no desenvolvimento de respostas que melhor sirvam as pessoas em situação de vulnerabilidade e as comunidades onde se encontram. Experimentamos soluções inovadoras sustentadas em metodologias já existentes. Sustentamo-nos no saber acumulado – seja académico, seja do terreno. Estamos abertos a visões complementares à nossa. Por isso, muito apreciamos a partilha de ideias, conceitos e experiências. Para o efeito, basta entrar em contacto connosco para [email protected]. [1] “O emprego protegido fornece atividade industrial voltada para as necessidades do profissional, portadores de deficiência física, que não se consegue inserir no mercado de trabalho normal” (Gersuny & M., 1970) cit in Marques (2018, pp.5).
[2] Segundo a Associação Portuguesa de Emprego Apoiado, o “Emprego Apoiado (EA) é um modelo de intervenção para trabalhar com pessoas em situação de desvantagem. Tem como objetivo potenciar o acesso e manutenção ao trabalho remunerado no mercado aberto de trabalho. O EA é completamente consistente com os conceitos de capacitação, inclusão social, dignidade e respeito pelas pessoas”. Fonte: https://empregoapoiado.org/emprego-apoiado/ pesquisado em 17-11-2022 [3] A Pista Mágica é uma Associação fundada em 2008, mais conhecida como Escola de Voluntariado. Persegue a utopia da construção de um mundo melhor através implementação de atividades de voluntariado com a inclusão de pessoas voluntárias devidamente preparadas e acompanhadas. [4] VOAHR é a sigla para Voluntariado Organizado para uma Ação Humanitária de Referência. O projeto de inovação social VOAHR Municípios abrangeu 14 municípios da Área Metropolitana do Porto que também eram os investidores sociais, designadamente Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Porto, Póvoa de Varzim, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia. Decorreu entre outubro de 2018 a dezembro de 2021 financiado pelo POISE – Portugal Inovação Social. Referências
MARQUES, J.F.M. (2018). O Emprego Apoiado e o Emprego Protegido. Estudo Comparativo. Tese de Mestrado em Psicologia Clínica. ISPA – Instituto Universitário, Lisboa. 89 pp.. Acedido a 17-11-2022 em: https://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/6639/1/24155.pdf. FERNANDES, S., Azevedo, A., e Freitas, I. (2021). Guia para um Voluntariado mais Inclusivo. Pista Mágica – Associação. Gondomar. Acedido a 17-11-2022 em: https://drive.google.com/file/d/1e1P1A38Uw6-_twdv-vp3aS07bIJKCa3T/view. |
It is natural that when we talk about Volunteering and Inclusion our reasoning leads us to a volunteer action that contributes to the inclusion of the beneficiaries. This article, however, is focused on volunteering as a tool for inclusion of the volunteer. To that end, we share the vision of what we at Pista Mágica consider to be the spectrum of autonomy in volunteering that is most inclusive.
Figure 1
Spectrum of autonomy in more inclusive volunteering – Pista Mágica This spectrum promotes the empowerment of the volunteer and aims to ensure the fulfilment of the activity’s impact, both for those who carry out the volunteering (and who are in a vulnerable situation) and for those who benefit from this action.
All volunteering should be inclusive, i.e. it should include all people who wish to volunteer. Hence all volunteering programmes need to cater for the participation of those facing inclusion challenges. However, there are people who are, for example, in a therapeutic process. Including them in a generic volunteer programme (even if inclusive) could put at risk both the volunteer and the beneficiaries of their actions. In the first two points, we draw on the concepts of "sheltered employment[1]" and "supported employment[2]". The aim of sheltered volunteering is to provide volunteer activities in a specifically created environment to ensure a safe space for volunteer activities, which protects the volunteer in view of her/his situation of vulnerability. Volunteers in vulnerable situations carry out activities in a controlled environment, specifically for him/her. A clear example is the management of a volunteering programme in a prison environment. In supported volunteering, there is a personalised accompaniment of the volunteer, taking into account the challenges he/she faces due to his/her situation of vulnerability and in order to use his/her full potential. Each person has a unique set of talents that he/she can put at the service of the community. In this volunteering, we create tailor-made volunteer programmes for the group we are serving that has the same type of vulnerability, for example people with disabilities. In more inclusive volunteering, people volunteer in programmes that already exist and roles are matched to their talents, potential and challenges. An example is any volunteer programme where policies and procedures are established in organisational volunteer programmes so that all people can volunteer. In the latter case, there is no need for personal, face-to-face mentoring of the volunteer during the volunteer exercise. The image shown above is a path with progressive steps of autonomy, which does not mean that one cannot go back on that path. For example, one can start at the first point, move on to the second and (for a number of reasons) decide to return to the first. One can also begin and remain at the second point. Everything depends on each person and should be analysed on a case-by-case and person by person basis.
Volunteering as a universal right
A few years ago, I often expressed my indignation at receiving so many people at volunteer interviews recommended by psychiatrists and psychologists. I aspired to participate in meetings of these professionals to ask them to stop doing it. I argued that volunteering is not therapy, that before volunteering, people should be physically and psychologically fit. Figure 2
Maslow's Hierarchy of Needs created by Abraham Maslow (1908-1970) Influenced by the Theory of Human Needs, developed by the American psychologist Abraham Maslow, it rebutted that human beings should satisfy some needs (which includes taking care of themselves) before starting to take care of others. Maslow's hierarchy of needs has at the base the physiological needs (for survival such as breathing, food, rest,...), the next the safety needs (physical protection, shelter, health,...), the third layer is the love/belonging needs (relationship with others), the fourth layer is the esteem needs (personal valuation) and at the top of the pyramid is the self-actualisation (achievement of personal desires).
He believed that, ideally, volunteering should be exercised when we have crossed the first four layers, the basic and psychological needs. He therefore excluded the most vulnerable people, leaving them only the role of beneficiaries as long as they have not reached the top of the pyramid. In the meantime, I have changed my mind: as a result of the experience of managing volunteers in the field, of scientific curiosity and the natural restlessness of someone who wants to do more and better in the transforming world of volunteering. The first shock with reality was in 2004, when I was implementing the project "A Casa das Mães" (The Home of Mothers) in a remote area in Timor-Leste (Lautem district) with the association Doctors of the World. My nurse colleague Fátima Mendes insisted on setting up an emergency volunteer group in the villages. The idea was that when a woman went into labour, these people would call an ambulance to take her to the nearest health facility so that she could give birth safely (maternal and child morbidity and mortality were extremely high at that time). This required walking sometimes long distances to access a telephone and call the ambulance. Internally, bells were rung as I remembered Maslow's famous hierarchy of needs. I silently asked myself: "Are the basic needs of these volunteers met?"; "Those that are not, how can we include them in a volunteer effort?". Fatima and her persistence made me give in to the idea of experimenting, without feeling sure that it would work. The success in making this volunteer group a success put my doubts to rest. On the other hand, in the vast hours of training I gave, I reiterated evidence-based perspectives. One of them was the repeated scientific studies carried out in different geographies and cultures that generally confirm the same thing: those who volunteer live longer, are happier and have a higher quality of life. However, from a certain point onwards, the mantras I kept repeating seemed paradoxical. Let me explain. If, in so-called ordinary people, volunteering has this positive effect on their lives, how much will it impact the lives of those in situations of vulnerability? It will certainly be proportional to the level of vulnerability they find themselves in. Moreover, I have long argued that preparation is a universal right of volunteers that can - in the extreme - save their lives and the lives of those who benefit from their action (which is why I founded the Escola de Voluntariado (Volunteering School) in Portugal in 2008). Within this reasoning, preventing people in vulnerable situations from volunteering is also a violation of their rights. Denying them the opportunity to contribute to their well-being while contributing to a better world is, at the very least, serious! As it is another form of social exclusion. As a result of this evidence and reflections at Pista Mágica[3] - where we integrate social innovation into volunteering - we have started to focus our work on inclusive volunteering. We then present two pilot initiatives that are currently being implemented. Volunteering as a tool for social inclusion: a methodological proposal In 2021, within the scope of the Initiative for Innovation and Social Entrepreneurship VOAHR Municípios (VOAHR Municipalities) project[4], Pista Mágica began a survey of good practices in inclusive volunteering in the Porto Metropolitan Area, which led to the creation of a methodological proposal to make any volunteering projects or programmes more inclusive. Thus was born the Guide for more Inclusive Volunteering (Fernandes et al.), which, with the implementation of operationalisation projects, gave shape to a new approach in the field: one that sees volunteering as a tool for social inclusion, through work with people in situations of greater vulnerability. This methodology has 3 phases: Figure 3
Phases of the methodology of Volunteering as a Tool for Social Inclusion (Pista Mágica) The Training covers three themes: self-knowledge (based on the Hero's Journey, by Joseph Campbell), empathy and education for volunteering (training developed by Pista Mágica in the last 14 years). After this, group AGVs start, directly related to the interests of the participants and the needs diagnosed in the community for Volunteer activities. Next, each participant has at least two planning sessions (individual or group), based on the Pedagogy of Interdependence, a methodology aimed at the autonomy and fulfilment of people with disabilities and adapted and tested by Pista Mágica with other vulnerable populations, namely institutionalised young people and residents of social neighbourhoods and people with disabilities. In these sessions, each volunteer can develop his/her Happiness Project, define concrete dreams and goals, as well as understand, with the help of the technical team, where volunteering may be useful for that realisation.
Pilot Initiatives: Supported Volunteering I will now present the two pilot initiatives to be implemented in the field at Pista Mágica that follow the aforementioned methodology and are applied through Supported Volunteering: Carry and VolunTalent. Figure 4
Pilot projects of Supported Volunteering under implementation Carry
The project aims to encourage the involvement of vulnerable teenagers in volunteer activities. Volunteer work, as a tool for social inclusion, aims to boost the empowerment of young people, helping to break the cycle of poverty and provide greater access to opportunities. It is based on a group training process, followed by individual mentoring, supported by volunteer work, and aims to work with young people to increase the value of their life project. So far, it has trained more than 40 teenagers, integrated more than 20 teenagers in supported volunteer activities and integrated more inclusive volunteer activities (autonomously, without technical supervision). The impact evaluation process is still underway, however, in terms of community impact, there are already very favourable results so far:
For the beneficiaries, the project represents an opportunity for personal enhancement and has received very positive feedback, as demonstrated by the following testimonies:
VolunTalent
IIES VolunTalento proposes volunteering as a solution for the inclusion of people over 18 (with disabilities) in their communities, through a strategic and operational intervention of civic participation and socio-professional experience, aiming to improve the access of people with disabilities to civic participation through volunteering. The preliminary impact assessment carried out by an external entity reveals good prospects for the effectiveness of this methodology. Regarding the relational dimension, a positive evolution is perceived between T0 (general average: 2.8) and T1 (general average: 3.8). In the socio-professional dimension, a positive evolution is also perceived between T0 (overall average: 3.7) and T1 (overall average: 4.3), through volunteer activities, with a total of 66 hours of volunteering. Potentiating the autonomy and empowerment of people with disabilities through volunteering. Witness: [Do you feel it helped you realise what you want and what you do well?] yes...I think I realised that my personality is good for something...for example, it's good to have a calm personality when in contact with animals, which is where [I realised] my personality can be an advantage and not a disadvantage." It is concluded that, so far, the VolunTalento initiative, through the volunteer activities, has potentiated the empowerment and gain of skills of people with mild to moderate disabilities. This idea is present both in the support staff and in the participants' discourse, which was obtained through the analysis of the Focus Groups. Witness: "I think before I came to CIS and to the VolunTalento project I was a very introverted person, very to herself...I didn't socialise much...after coming here I started to feel...like I was part of something, that I wasn't excluded...something I've felt all my life - Being excluded...here I don't feel that - being excluded - and here I feel that I'm part of the group...that's it." Endnotes Volunteering is for all and should be an example of what is at its core: the contribution to a better world. That is why it is necessary to create the conditions for people in vulnerable situations to have access to volunteering (without the obstacles that are still placed in their way). How to do this without compromising impactful volunteering with its beneficiaries and without harming the volunteer? Pista Mágica proposes a spectrum of inclusive volunteering for people in vulnerable situations with three dimensions: sheltered volunteering, supported volunteering and more inclusive volunteering. The first two work with groups of people who share similar inclusion challenges and the third promotes inclusion in existing volunteer programmes. We, too, are leading the way in developing responses that better serve people in situations of vulnerability and the communities in which they live. We experiment with innovative solutions based on existing methodologies. We draw on accumulated knowledge - both academic and from the field. We are open to complementary visions. Therefore, we greatly appreciate the sharing of ideas, concepts and experiences. To do so, please contact us at [email protected]. [1] "Sheltered employment provides industrial activity geared to the needs of the professional, physically disabled person who cannot fit into the normal labour market" (Gersuny & M., 1970) cit in Marques (2018, pp. 5).
[2] According to the Portuguese Association for Supported Employment, "Supported Employment (EA) is an intervention model to work with people in a disadvantaged situation. It aims to empower access and maintenance of paid work in the open labour market. EA is fully consistent with the concepts of empowerment, social inclusion, dignity and respect for people." Source: https://empregoapoiado.org/emprego-apoiado/ researched on 17-11-2022 [3] Pista Mágica is an Association founded in 2008, better known as the Escola de Voluntariado (Volunteering School). It pursues the utopia of building a better world through the implementation of volunteer activities with the inclusion of duly prepared and monitored volunteers. [4] VOAHR stands for Voluntary Work Organised for a Humanitarian Reference Action. The VOAHR Municípios social innovation project covered 14 municipalities of the Porto Metropolitan Area that were also the social investors, namely Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Porto, Póvoa de Varzim, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia. It ran from October 2018 to December 2021 funded by POISE - Social Innovation Portugal. References
MARQUES, J.F.M. (2018). O Emprego Apoiado e o Emprego Protegido. Estudo Comparativo. Tese de Mestrado em Psicologia Clínica. ISPA – Instituto Universitário, Lisboa. 89 pp. Accessed on 17-11-2022 at: https://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/6639/1/24155.pdf. FERNANDES, S. , Azevedo, A. , and Freitas, I. (2021). Guia para um Voluntariado mais Inclusivo. Pista Mágica - Associação. Gondomar. Accessed on 17-11-2022 at: https://drive.google.com/file/d/1e1P1A38Uw6-_twdv-vp3aS07bIJKCa3T/view. |