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Revista ES n.11 ― ​dezembro 2020
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POR






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COOPERATIVAS E JOVENS:
​Uma Relação a (Re)Criar

​​Cátia Cohen
Secretária-Geral da CASES
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“O setor cooperativo tem de oferecer boas-vindas genuínas aos jovens, convidando-os a ter um papel ativo e a ajudar a moldar o futuro.”(1) Esta afirmação constitui o ponto de partida desta breve reflexão que nos propomos realizar sobre um dos desafios atuais do movimento cooperativo: potenciar a participação da juventude no seio das cooperativas.
 
Segundo dados do Inquérito ao Setor da Economia Social (ISES)(2), promovido pelo INE em colaboração com a CASES, tendo como referência o ano 2018 e um conjunto de 2.012 cooperativas, a idade média dos membros da direção de topo (órgão executivo) concentra-se, em maior parcela, no escalão 55-64 anos (34%) e, em menor parcela, no escalão </= 34 anos (3%), Relativamente à idade média do dirigente de topo, verifica-se, igualmente, esta tendência: uma maior concentração no escalão 55-64 anos (28,8%) e uma menor representatividade no escalão </= 34 anos (3,9%). ​
Dados ISES (2018):
 - 3% de membros da direção de topo das cooperativas têm até 34 anos
 - 3,9% de dirigentes de topo das cooperativas têm até 34 anos

​De acordo com dados do Portal de Credenciação da CASES, em 2018 e para um total de 1.737 cooperativas registadas, a idade média de trabalhadores centra-se, com maior relevo, no escalão 45-64 anos (48,1%) e, com menor destaque, no escalão </= 34 anos (18,2%).
Dados Portal de Credenciação (2018):
 - 18,2% de trabalhadores das cooperativas registadas têm até 34 anos

Estes números permitem-nos evidenciar a necessidade premente de promover o envolvimento do público jovem nas cooperativas, quer na perspetiva de garantir a continuidade e a longevidade do setor, bem como de potenciar a inovação nas suas estruturas, produtos e serviços, quer na perspetiva da empregabilidade, enquanto ferramenta de criação de autoemprego, ou na qualidade de potencial empregador. Isto significa que é essencial saber comunicar e dar a conhecer às gerações mais jovens este modelo empresarial como um instrumento moderno, atual e versátil, capaz de dar resposta às suas necessidades e aspirações.
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O desconhecimento ou o reduzido conhecimento da figura cooperativa, a que, não raras vezes, se associam ideias pré-concebidas adversas a este modelo – que influenciam negativamente a visibilidade do setor e limitam eventuais opções de carreira no seu âmbito – assentam, na nossa perspetiva, num conjunto de condicionantes de vária ordem, entre as quais destacamos: i) a inexistente ou a insuficiente abordagem, face a outros modelos de negócios, do modelo cooperativo no sistema de ensino; ii) a reduzida interação entre as cooperativas e as universidades, particularmente no âmbito das licenciaturas, restringindo o interesse ou a possibilidade de jovens realizarem estágios curriculares nas cooperativas; iii) a incapacidade de uma parte significativa do setor comunicar a sua natureza cooperativa, o que faz com que a grande maioria dos jovens desconheça a origem cooperativa de produtos e serviços que consome; iv) o desconhecimento de referências de pares que desenvolvam projetos cooperativos, ou que desenvolvam a sua atividade profissional em cooperativas, e que, como tal, sejam reconhecidos como exemplos inspiradores e motivadores; v) os encargos e procedimentos administrativos associados ao processo de constituição de cooperativas, bem como o montante do capital social mínimo exigível.
 
Se, por um lado, os fatores supramencionados condicionam a perceção do cooperativismo por parte da juventude, e, neste sentido, dificultam o seu acesso a este modelo, por outro lado, reconhece-se o potencial das cooperativas e os seus benefícios para este público. De facto, as cooperativas podem ser atrativas para os jovens, porque estes ao unirem esforços e competências em torno de um projeto coletivo, aumentam o seu capital humano e financeiro e partilham os riscos e os benefícios da atividade, colmatando, assim, a falta ou a escassez de recursos.

​Acresce que os valores e os princípios cooperativos constituem uma fonte de inspiração para a juventude porque, ao promoverem a participação ativa e democrática na satisfação das necessidades, reconhecem as dimensões humana e económica, não esquecendo a vertente ambiental, que deverão reger a atividade das cooperativas. Na verdade, o facto de as gerações mais jovens estarem cada vez mais empenhadas na resolução dos problemas da sociedade atual, designadamente aqueles relacionados com questões sociais e ambientais, permite potenciar o setor cooperativo junto deste público. Ao encarar este modelo como uma solução de autoemprego, que possibilita a transformação das suas ideias num negócio viável e solidário, gerador de oportunidades económico-sociais e com impacto positivo na sociedade, mais predispostas estarão estas gerações a considerá-lo como uma opção válida para integrar o mercado de trabalho e como um meio eficaz para colocar em prática o seu espírito empreendedor. 
 
Além disso, a existência de um regime especial de constituição imediata de cooperativas – “Cooperativa na Hora” – procedimento simplificado e com encargos administrativos inferiores aos associados ao regime de constituição tradicional, poderá manifestar-se como uma importante ferramenta no processo da adesão de jovens ao setor cooperativo.

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Do ponto de vista das cooperativas, o envolvimento da juventude traz, igualmente, ganhos significativos para o setor. Por um lado, considerando a sua proximidade com as tecnologias da informação e da comunicação e com novos métodos e processos de trabalho, a integração de jovens em cooperativas já existentes poderá potenciar inovações tecnológicas e organizacionais significativas, com consequentes impactos positivos nas suas atividades económico-sociais. Simultaneamente, a constituição de novas cooperativas por jovens poderá provocar um novo impulso e dinamismo ao setor, designadamente através do desenvolvimento de soluções inovadoras em áreas emergentes e pouco exploradas.
 
Por outro lado, potenciar a proximidade das cooperativas junto da juventude, permite às primeiras assegurar o cumprimento do 5.º princípio cooperativo – educação, formação e informação – desempenhando, deste modo, o seu importante papel no âmbito da sensibilização para a natureza e as vantagens da cooperação, bem como na formação de futuras lideranças cooperativas.
 
Encarar a juventude como potencial de desenvolvimento do futuro do setor cooperativo é, assim, fundamental, porque os jovens de hoje serão os membros e dirigentes do cooperativismo de amanhã, representando, por isso, a garantia de rejuvenescimento e continuidade do próprio setor. Urge, neste sentido, (re)criar a relação entre a juventude e o cooperativismo, designadamente, através da promoção de espaços de proximidade, comunicação e experimentação nas cooperativas, do desenvolvimento de estratégias que promovam a aprendizagem do modelo cooperativo nas escolas e universidades e do reforço de iniciativas de estímulo e apoio do Estado à criação de cooperativas por jovens(3). Isto proporcionará um maior envolvimento e uma efetiva participação da juventude no setor cooperativo, contribuindo, certamente, para impulsionar o seu crescimento e fortalecer o seu desenvolvimento, e, por conseguinte, reforçar o seu relevante papel no âmbito da coesão social e económica.
​(1) Plano de Ação para uma Década Cooperativa da Aliança Cooperativa Internacional, documento apresenta a visão estratégica orientadora do movimento cooperativo até 2020: https://www.ica.coop/sites/default/files/publication-files/blueprint-for-a-co-operative-decade-portuguese-1267863829.blueprint-for-a-co-operative-decade-portuguese
(2) https://www.cases.pt/wp-content/uploads/2020/02/ISES_Apresenta%C3%A7%C3%A3o_05022020.pdf
(3) O estímulo e apoio do Estado à criação e à atividade de cooperativas constitui imperativo constitucional (artigo 85º da CRP).
ENG






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COOPERATIVES AND YOUTH: A RELATIONSHIP TO (RE)CREATE
Cátia Cohen
Secretary General of CASES
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”The cooperative sector must offer a genuine welcome to young people, inviting them to take an active role and help shape the future” (1). This statement constitutes the starting point of this brief reflection that we propose to carry out on one of the current challenges of the cooperative movement: enhancing the participation of youth within cooperatives.
 
According to data from Social Economy Sector Survey (ISES) (2), promoted by INE in collaboration with CASES, having as reference the year 2018 and a group of 2,012 cooperatives, the average age of members of the top management (executive body) is concentrated to a greater extent in the 55-64 age bracket (34%) and to a lesser extent in the </ =34 age bracket (3%). Regarding the average age of the top manager the trend remains: greater concentration in the 55-64 age group (28.8%) and lower representation in the </ = 34 age group (3.9%). ​
ISES data (2018):
- 3% of top management members of the cooperatives
​are up to 34 years old
- 3.9% of top cooperative managers are up to 34 years old

​According to data from the CASES Accreditation Portal, in 2018 and for a total of 1,737 registered cooperatives, the average age of workers is centred, with greater emphasis, in the age group 45-64 years (48.1%) and the </ = 34 years old group (18.2%) is less prominent.
Accreditation Portal Data (2018):
- 18.2% of registered cooperative workers
​are up to 34 years old

​These figures allow highlighting the urgent need to promote the involvement of young people in cooperatives, both in terms of ensuring continuity and longevity of the sector, and to foster innovation in its structures, products and services, and in terms of employability, as a tool for creating self-employment, or as a potential employer. This means that it is critical to know how to communicate and make this business model known to younger generations as a modern, current and versatile instrument, capable of meeting their needs and aspirations.

Lack or scarcity of knowledge of cooperatives, often associated with pre-conceived ideas adverse to this model – which negatively influence the visibility of the sector and limit possible career options in its scope – are based, in our view, on a set of miscellaneous conditions, among which we highlight: i) non-existent or insufficient approach, in relation to other business models, of the cooperative model in the education system; ii) reduced interaction between cooperatives and universities, particularly in terms of degrees, restricting interest or the possibility for young people to carry out curricular internships in cooperatives; iii) inability of a significant part of the sector to communicate its cooperative nature, which makes the vast majority of young people unaware of the cooperative origin of products and services they consume; iv) lack of knowledge of peer references developing cooperative projects, or developing their professional activity in cooperatives, thus acknowledged as inspiring and motivating examples; v) the charges and administrative procedures associated with the process of setting up cooperatives, as well as the minimum amount of capital required.
 
While, on the one hand, the abovementioned factors condition the perception of cooperativism by youth, thereby hindering their access to this model, on the other hand, the potential of cooperatives and their benefits for this audience is acknowledged. In fact, cooperatives can be attractive to young people, because by joining efforts and skills around a collective project, they increase their human and financial capital and share the risks and benefits of the activity, thus filling the lack or scarcity of resources.

In addition, cooperative values and principles are a source of inspiration for youth, because, by promoting active and democratic participation in responding to needs, they recognise the human and economic dimensions, including environment, which should govern the activity of cooperatives. In fact, that younger generations are ever more committed to solving the problems of today’s society, namely those related to social and environmental issues, allows enhancing the cooperative sector with this audience. When facing this model as a self-employment solution, which allows transforming your ideas into a viable and supportive business, generating economic and social opportunities and has a positive impact on society, these generations become more predisposed to see it as a valid option to enter the labour market and as an effective means of putting into practice their entrepreneur spirit.
 
Besides, the existence of a special regime for immediate constitution of cooperatives – “Cooperativa na Hora” – a simplified procedure with lower administrative burdens than those associated with the traditional incorporation regime, can prove an important tool in the process of bringing young people to the cooperative sector.

From the cooperatives’ point of view, youth involvement also brings significant gains for the sector. On the one hand, considering their proximity to information and communication technologies and to new methods and work processes, the integration of young people into existing cooperatives may enhance significant technological and organisational innovation, with consequent positive impact on their economic and social activities. At the same time, the creation of new cooperatives by young people may give new impetus and dynamism to the sector, namely by developing innovative solutions in emerging and little explored fields.
 
On the other hand, enhancing the proximity of cooperatives to youth allows the former to ensure compliance with the 5th cooperative principle – education, training and information –, thus playing its important role in raising awareness of the nature and advantages of cooperation, as well as in the training of future cooperative leaders.
 
Seeing youth as potential for the future development of the cooperative sector is, therefore, crucial, because today’s youth will be the members and leaders of tomorrow’s cooperativism, therefore representing the guarantee of rejuvenation and continuity of the very sector. In this sense, there is an urgent need to (re)create the relationship between youth and cooperatives, namely through promotion of spaces of proximity, communication and experimentation in cooperatives, the development of strategies that promote learning of the cooperative model in schools and universities and reinforcing initiatives to stimulate and support the State in creating cooperatives for young people (3). This will provide greater involvement and effective participation of youth in the cooperative sector, certainly contributing to incentivise their growth and strengthen their development, thereby reinforcing their relevant role in favour of social and economic cohesion.
(1) Action Plan for a Cooperative Decade of the International Cooperative Alliance, a document presenting the strategic vision guiding the cooperative movement until 2020: https://www.ica.coop/sites/default/files/publication-files/blueprint-for -a-co-operative-decade-portuguese-1267863829.blueprint-for-a-co-operative-decade-portuguese
(2) https://www.cases.pt/wp-content/uploads/2020/02/ISES_Apresenta%C3%A7%C3%A3o_05022020.pdf
(3) The State’s encouragement and support for the creation and activity of cooperatives is a constitutional imperative (Article 85 of the CPR).










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